S. F. Oliveira. 2012: era para ser o fim. http://fim2012.weebly.com/
Prefácio
Sempre houve a ideia do fim do mundo.
2012 foi mais um exemplo (fracassado) das profecias. Não causou tanto transtorno como em 2000, mas algumas pessoas acreditaram na hipótese dos Maias.
Aqui aparecem os textos que escrevi num blog no ano de 2012. Eles são acompanhados pelas respectivas datas.
Alguns textos, por causa dos temas, foram publicados em outros blogs (como: rock, trabalho, depressão, mulheres, entre outros).
Além dos fatos daquele ano, são apresentadas e discutidas, informalmente, citações de autores como Karl Marx, Frederick Engels, Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Jacques Lacan e Michel Foucault.
Os grifos são meus (tanto nos textos como nas citações).
Segunda-feira, 10 de dezembro de 2012.......... VINGANÇA
Viver é alimentar uma vingança contra si. As perdas, as decepções e os fracassos retornarão algum dia, na fase adulta, em várias formas: pesadelo, insônia, falta de apetite, marcas no corpo, desinteresse sexual, entre outras. A bagagem da vingança contra si é armazenada no inconsciente. Não há como fugir. Trata-se do preço de estar vivo e ter tido experiências. A vingança contra o outro é problema. Ela só faz sentido se a vida perdeu o sentido, afinal, o indivíduo gastará o seu presente - aqui e agora - para arquitetar e realizar um plano de destruição do outro. Na verdade, tal projeto significa não apenas o fim do outro mas ainda a destruição de si mesmo. Se realizada, a vingança pode ser vista como uma "obra de arte" pois representa, ao mesmo tempo, a destruição do outro e de si na medida em que dedicar-se ao outro é, de certa forma, morrer aos poucos, deixar de viver. Esse dedicar-se ao outro corresponde tanto do ponto de vista negativo - a vingança - como positivo - o amor.
Muitas pessoas ficam deprimidas no domingo, sobretudo após ouvir a música do final do "Fantástico". De fato, essas pessoas não "vivem" o domingo - o aqui e o agora - pelo que ele é: um dia livre, um dia de ócio. Essas pessoas "vivem" uma representação do domingo, elas "perdem" o presente e focam no futuro, o domingo deixa de existir e torna-se o dia anterior da segunda-feira, que todos odeiam pois ela significa o início da longa semana de compromissos e obrigações. Deixar de viver o aqui e agora e gastar o tempo do presente pensando no futuro é um fuga. Trata-se sobretudo de uma fuga de si. Em relação ao domingo, ainda existem outros problemas: . "o dia livre": as pessoas não têm tempo para elas durante a semana, são escravas dos compromissos e dos projetos que elas inventaram para não serem livres; . "o dia do ócio": as pessoas têm medo do ócio... sonham com o "fazer nada"... mas o "sonhar" é projetar no futuro, é um pretexto para não viver o agora... "fazer nada" causa pavor pois essas pessoas terão que se deparar, neste momento, com elas mesmas. Ah, "mais uma coisa": Bom Domingo!!!
Quarta-feira, 14 de novembro de 2012.......... CINCO ASPECTOS
Em cada indivíduo devem ser considerados cinco aspectos: . a civilização [racional] . o inconsciente [emocional] . a genética . a ambivalência dos desejos . as condições externas aleatórias Dos cinco aspectos, o indivíduo possui algum controle mesmo só quanto ao lado racional... A razão foi inventada como uma espécie de proteção contra os outros aspectos. O "saber" genético nasce com a pessoa. Trata-se de uma predisposição, mas, em muitos casos, funciona como um "determinismo"... Como negar a ambivalência dos desejos? É como o indivíduo dizer ao mesmo tempo "sim" e "não". Ele sinceramente deseja ser monogâmico e, na prática, relaciona-se várias mulheres... Os fatores externos podem ser definidos como as condições externas aleatórias. É o famoso "e se..." (acontece algo, mas poderiam ocorrer várias outras possibilidades). Aqui o indivíduo não possui controle algum. São fatores externos e aleatórios, ou seja, acontecem sem a sua vontade e sem estar dentro de uma lógica. O inconsciente... Aquilo que, no fundo, você deseja, porém, não admite nem para si mesmo. A emoção é algo que destrói qualquer castelo (racional) de cartas construído pelo indivíduo.
Quando eu tinha uns 13 (ou 14) anos, fiquei com uma menina de 15. Foi um sonho. Ela, na minha perspectiva, parecia já uma moça formada, quase adulta, sobretudo porque o (ex) namorado dela tinha mais de 20 anos. Com 21 ANOS, fiquei com uma mulher de 33 (ou 35) anos. Além do namoro, a minha intenção, claro, era aprender com ela. Posteriormente, as coisas inverteram e tornei-me mais velho do que minhas namoradas. Veio o casamento. Veio o divórcio. Assim, diriam alguns, acabei voltando para "o mercado". Fiquei e namorei garotas (bem mais) jovens. Crise da meia-idade, talvez. "Síndrome de Hugh Hefner"... Nesta fase percebi um nítida diferença entre as garotas de 18 e as de 25 anos. Imagino que isso ocorra também entre os 15 e os 18. O que importa é que, (novamente) na minha perspectiva, é fascinante a rapidez com que as mudanças atingem as garotas. Num momento, só querem saber de brincadeiras, "palhaçadas" e paqueras. Em outro, namoram muitos meses (até anos) o mesmo cara. O projeto é o casamento (o que nem sempre acontece). Depois dos 25, se estiverem solteiras, as relações tornam-se mais complexas. Elas ficam mais críticas, mais seletivas. Parecem que têm pressa. São formadas, responsáveis, trabalham e muitas possuem carros e moram sozinhas. São independentes. Solteiras e independentes. O que seria um sonho para os homens, para as mulheres, parece ser um problema. Nas conversas, fica a sensação de que falta algo na vida delas. Existe um falha no lado emocional. Sem a ingenuidade de antes, percebem que não seria tão simples resolver esse problema, principalmente se for levado em conta o fato de que nós, homens, não mudamos na mesma velocidade. Somos lentos quando o assunto é maturidade. As mulheres inteligentes e críticas sempre assustam, como se elas fossem descobrir o óbvio: a insegurança disfarçada em infidelidade e machismo. Não é de sentir pena. Entretanto, certamente existe um desequilíbrio (até intelectual) quando pensamos numa mulher de 25 anos e num homem da mesma idade.
Segunda-feira, 12 de novembro de 2012.......... ADMIRADAS
As mulheres precisam ser admiradas pelos homens, por outras mulheres e, sobretudo, por elas mesmas. Se não for para elogiar, os homens devem ficar calados. Mesmo se elas estiverem erradas, os homens nunca podem agredi-las ou insultá-las. Devem, dependendo do caso, simplesmente pedir licença e sair. A necessidade de serem admiradas pode gerar algumas confusões. Primeiro, isso não significa que elas queiram fazer sexo. Segundo, não quer dizer ainda que, mesmo gostando dos elogios, elas estejam interessadas "naqueles" homens. Compreender os sinais femininos é um problema. Paciência. Independente da situação, as mulheres jamais devem ser desrespeitadas. A questão não é "não tem paciência, então vire gay". Bobagem. Toda relação humana é complexa. O ponto central é: os homens são fisicamente, por natureza, mais fortes do que as mulheres. Por isso, nada justifica uma agressão física. Instinto de violência? OK. Homens brigam com outros homens e não batem em mulheres ou crianças.
Sexta-feira, 26 de outubro de 2012.......... BDSM & NAZISMO
Já escrevi sobre a associação que existe entre o nazismo e o sadomasoquismo (BDSM). Não há como negar. Basta ver as grandes salas de tal prática, com todos aqueles aparelhos - que "parecem" instrumentos de tortura - e as roupas dos praticantes que imitam os uniformes dos oficiais nazistas. As salas, claro, podem ser associadas aos campos de concentração. Escrevi ainda, em outros artigos, sobre os elogios de Michel Foucault ao sadomasoquismo. Digo isso para que seja possível compreender a sua análise oposta ao que acabei de descrever sobre o BDSM:
"O nazismo não inventou a grande loucura erótica do século XX, mas ela foi sim criada pelo imaginário pequeno-burguês mais sinistro, chato e nojento. Himmler era vagamente agrônomo, e ele se casou com uma enfermeira. É necessário entender que os campos de concentração nasceram da associação de um hospital e de um criador de galinhas. Quintal mais hospital: essa fantasia estava por trás dos campos de concentração." (Dits et Écrits, p. 1688-1689) *
Primeiro, deve ser respeitado o conceito de hospital de Foucault, o que é diferente da concepção da maioria das pessoas. Tanto a medicina como o hospital foram criados mais para controlar do que para cuidar do indivíduo. Segundo, os campos de concentração funcionavam também como laboratórios na medida em que as pessoas que estavam presas eram consideradas inferiores pelos nazistas. De qualquer maneira, o imaginário de terror associado ao nazismo tornou-se um referência importante para os praticantes do BDSM. Diferente do que afirma Foucault, os sadomasoquistas não"apenas inventam novas possibilidades de prazer, utilizando reconhecidamente partes estranhas de seus corpos." (Michel Foucault, Dit et Ecrits, p. 1556-1557) Na maioria dos casos, o BDSM está associado aos traumas sofridos na infância. Existe, por parte dos sadomasoquistas, uma recusa no que diz respeito ao processo psicoterápico. Isso não ocorre por acaso. Basta lembrar o destaque que Freud dava a infância no desenvolvimento de um indivíduo saudável. Essas crianças chegam à vida adulta com sérios problemas que podem levar ao BDSM, à depressão ou ao suicídio. Neste contexto, talvez seja positiva a perspectiva de transformar o que era um trauma infantil em prazer sexual na vida adulta. A questão é que essa estratégia serve também para não enfrentar o verdadeiro problema do sadomasoquista. Trata-se de uma forma de esquecer a dor emocional do passado, utilizando, para isso, a dor (sexual) física do presente. Em suma, existem "novas possibilidades de prazer" no sadomasoquismo, mas trata-se de uma prática complexa e perigosa. Por mais estranho que possa parecer, o essencial no BDSM provavelmente não está relacionado à atividade sexual.
* "Le nazisme n'a pas été inventé par les grands fous érotiques du XX siècle, mais par les petits-bourgeois les plus sinistres, ennuyeux, dégoûtants qu'on puisse imaginer. Himmler était vaguement agronome, et il avait épousé une infirmière. Il fault comprendre que les camps de concentration sont nés de l'imagination conjointe d'hôpital e d'un éleveur de poulets. Hôpital plus basse-cour : voilà le fantasme qu'il y avait derrière les camps de concentration." (Michel Foucault, Dits et Écrits, p. 1688-1689)
Terça-feira, 23 de outubro de 2012.......... INSÔNIA
A insônia é um aviso. A máquina (corpo e mente) mudou. A tendência é piorar. Qual seria o problema? Existe um conflito entre os compromissos sociais - estudos, trabalhos e outros - e a necessidade de sono natural de uma pessoa. No conflito entre a natureza e a sociedade, quem perde é o indivíduo. A dificuldade de dormir ocorre no momento em que a pessoa está sozinha - ela e o travesseiro. O que acontece? Ela não pára de pensar no que fez no passado e fica ansiosa com os compromissos do futuro. Ela sofre com duas coisas que não existem: passado e o futuro. Aquele momento atual pertence à insônia. A insônia significa que algo está errado. Falta alguma coisa. A pessoa está infeliz com sua vida. O processo pode não ser consciente. Entretanto, o corpo "diz" que existe algo errado. E a resposta? Algumas pessoas preferem os remédios para dormir. Contudo, isso não resolve o problema principal. A causa é emocional. Mas essas pessoas não querem conhecer a causa. Elas preferem esquecer o passado. Na verdade, elas tentam esquecer o passado mas não conseguem. O que elas querem esquecer, de fato, é o que causa a insônia. Viver na ilusão não é a solução. A alienação tem o seu preço que pode ser desde uma simples insônia até casos mais graves como ataques cardíacos ou derrames cerebrais. A insônia não é um mal em si. Ela é, na verdade, uma característica do homem civilizado.
Pessoas com mentes limitadas conseguem definir o outro com apenas uma característica, normalmente associada ao ponto de vista sexual ou ao status de relacionamento: "ela é noiva", "ela é lésbica" e assim por diante. Mas seria só isso? Ela não trabalha, não estuda, não tem religião, não possui hobbies? Ela não pode, pelo menos, ser uma "noiva lésbica"? Na verdade, querendo ou não, as pessoas são mais complexas do que as enxergamos (por preconceito, por preguiça ou qualquer outro motivo). Já faz algum tempo que só uso camisetas pretas, jeans e tênis. Motivo? Nada de especial. Acho prático. Entretanto, sei de gente que associa a cor preta à depressão ou à morte. Daí, alguém poderia dizer que eu seria "gótico"... Não importo, mas só "gótico" seria o suficiente para definir a personalidade de um indivíduo? Creio que não. No meu caso, o que aparece é apenas uma imagem que pode interpretada de diversas maneiras sem, contudo, perceber a realidade. Basta ler alguns dos meus textos opinativos. Basta ver algumas imagens. Se tiver oportunidade, basta ouvir a minha conversa, avaliar o meu ponto de vista, perceber as possíveis contradições. Para quem teria mais curiosidade (e competência), bastaria ler os meus livros, as minhas teses, ir "além dos textos", verificar as notas de rodapé. Seria bastante trabalho para conhecer uma pessoa? Provavelmente. É mais fácil inventar um rótulo e usá-lo para reforçar a própria fantasia de como seria o mundo e os outros.
Seduzir uma mulher não é fácil. É necessária uma certa paciência para compreender todos aqueles sinais e dissimulações. O que mais irrita, no processo de conquista, é saber que ela também possui o mesmo objetivo: ficar junto. Entretanto, não pode ser fácil. Algumas mulheres, atualmente, são consideradas "fáceis" pois dizem o "sim" rapidamente ou tomam a iniciativa na sedução. Aqui acontece o oposto: o homem desvaloriza essa relação na medida em que, de fato, houve uma inversão nos papéis, ou seja, ele foi objeto da conquista. Complicado? Sim. Por quê? Somos todos civilizados, o que significa que precisamos considerar vários fatores além da realização pura e simples do desejo. Qual seria o principal problema? Dizer que trata-se de uma relação de poder é o óbvio. Para Michel Foucault, "mesmo entre os gregos, fazer o papel de passivo numa relação amorosa era um problema." (Dits et Ecrits, p. 1154) Em outras palavras, o jogo de sedução não acontece somente numa relação heterossexual. O foco, portanto, não seria "a mulher que se faz de difícil". A questão, na conquista, é que quem assume o papel de "passivo" ("conquistado") aceita, indiretamente, uma posição de inferioridade na relação de poder. Certamente existem várias significados e possibilidades para a perspectiva de " inferioridade na relação de poder" numa relação amorosa. A mulher que "se faz de difícil" irrita o homem pois ele é impedido de exercer o seu poder. Ela conta ainda que o fato dele representar o "sexo forte" não significa coisa alguma porque, na civilização, ele não pode utilizar a violência como forma de dominação. Trata-se de um jogo perigoso, que poderia ser resumido, de uma forma simplificada, em três fases: as estratégias de "resistência" da mulher (na verdade não seria uma resistência, seria apenas uma fase em que ela "poderia exercer o seu poder"...); a realização do ato pelo casal e, finalmente, a vingança do homem, que, após ter conquistado o seu objetivo, desprezará essa mulher dando prioridade às novas conquistas. Neste estranho jogo de espelhos, ora um domina sabendo que posteriormente será dominado, o que importa é a imagem que cada um passa para a sociedade. A mulher pode ter vários homens desde que os outros não fiquem sabendo e todos jurem que trata-se de uma "pessoa séria". O homem, após a humilhação inicial, controlaria mais a sua imagem pois os valores sociais são machistas, ou seja, se ele espalhar que ficou com fulana, seria ruim para ela que teria cedido ao seu poder de sedução; para ele, mesmo que todos comentem que ele fica toda noite com uma mulher diferente, será considerado sempre um elogio e ele ganhará pontos com os amigos (e muitas mulheres) por causa da sua postura machista que, ideologicamente, seria reconhecida como uma postura de homem heterossexual.
Algumas mulheres precisam ser bajuladas. Atrasam. Só aceitam elogios. Algumas mulheres acreditam que a bela aparência garante a permanência na área VIP da vida. Esquecem que o tempo passa, voa... para todos. Algumas mulheres querem paixão, carinho, amor, compreensão, conversa e perdão. Algumas reclamam de tudo o tempo inteiro. Esperam que os homens tenham toda a paciência com elas. Boa sorte para essas mulheres. Existem outros tipos. Viva a democracia !!
Quarta-feira, 5 de setembro de 2012.......... "ESPELHADAS"
Alguns indivíduos reclamam das fotos estilo "selfshot" ("espelhadas") pois as garotas aparecem com os celulares ou as máquinas fotográficas em frente ao espelho. Imaginam que elas deveriam programar as máquinas, dando a impressão que haveria uma outra pessoa no ambiente. Esquecem, no entanto, que: . o "ambiente" costuma ser o próprio banheiro e não haveria, assim, espaço para duas pessoas ou uma produção "sofisticada"; . o que interessa no "selfshot" é esse suposto amadorismo, transformando a garota na figura da "desejada vizinha" (girl next door"); . é o tipo de foto que ressalta o lado exibicionista da mulher, ou seja, mesmo sozinha, sem namorado, seria uma forma de dizer que ela é bela e merece ser admirada; . talvez nesse exibicionismo, além da maquiagem, lingerie ou o corpo "malhado" na academia, a garota queira mostrar também o próprio celular da moda - a maça, logomarca da Apple e do iPhone, é uma figura constante nas fotos; . o fato de ser no banheiro ou no quarto da garota reforça um clima de cumplicidade, um segredo, a ideia que estaria fazendo algo que não seria aprovado pelos pais. O "selfshot", portanto, representa um estilo de uma época - máquinas fotográficas digitais e modernos celulares - e de garotas que tiveram mais liberdade quanto ao processo de educação tanto em casa como na escola. É bom? É ruim? É difícil dizer. De qualquer maneira, a decisão de realizar todo o processo depende de uma única pessoa: a garota, sozinha em casa ou no seu quarto, que deseja ser admirada.
As mulheres são sutis. Os homens são explícitos. As mulheres não falam o que desejam, enviam sinais. Os homens são óbvios e não disfarçam o que querem. Barbara De Angelis: "Muitas pessoas evitam usar palavras durante o sexo, porque as palavras de desejo as fazem sentir-se expostas. Eu posso sentir que o toque do meu amante me excita, mas se eu disser a ele, 'o seu toque me excita, agora eu tenho certeza de que ele sabe, e agora estarei mais vulnerável. Minhas palavras dão-lhe poder sobre mim, o poder que vem de saber que a sua sedução foi bem sucedida, de saber o que eu gosto." * Barbara De Angelis usa "pessoas" no início, quando deveriam utilizar "mulheres". No resto da citação, ela assume que seria uma mulher diante de um homem e diz que a mulher evita falar pois isso daria poder ao homem na medida em que ele saberia "que a sua sedução foi bem sucedida." Poder e saber, diria Michel Foucault. O problema é: qual o problema dele saber que ela o deseja? Falar significaria dar ao outro a certeza de seu poder. Mas, o sexo não deveria estar relacionado a algo emocional e a perda da razão? A questão é que muitas pessoas, não só as mulheres, usam o sexo como um meio para atingir um objetivo (casamento, dinheiro, um carro novo...) e não percebem que o sexo existe em si como algo natural e agradável para os envolvidos. Sexo é bom porque existe a necessidade biológica da procriação, da preservação da espécie... mas na hora do ato, as pessoas não deveriam pensar nisso (nem em outra coisa) e sim deveriam sentir o que a natureza proporciona na "união de dois corpos." Qualquer reflexão sobre os motivos que levariam aquele casal para a cama, deveria ser feita antes do sexo. Afinal, na hora do amor, "fuck the rest." * Barbara De Angelis, em 1995, no seu livro: "Real Moments for Lovers" (apud, James R. Petersen, Playboy, September 1996, p. 42).
Terça-feira, 4 de setembro de 2012.......... SOFISTICAÇÃO E CATIVEIRO
Não existe novidade no autoflagelo. Nem seria possível dissociá-lo da culpa cristã. Causar dor em si mesmo não é algo novo ao ser humano. O que é recente é o termo BDSM.* "Bondage", em especial, representa bem esse imaginário quando são alimentadas fantasias numa época predominantemente niilista. Existem clubes de BDSM. Entretanto, a prática não é ilegal. Muitos são exibicionistas, mas todos sabem que nem sempre os indivíduos ditos "normais" compreendem ou aceitam formas diferentes de prazer sexual. Assim, o segredo torna-se uma opção da maioria. A prática do BDSM exige certas condições financeiras. Os acessórios não são baratos. Existem salas que mais parecem academias de musculação, com aparelhos grandes e pesados. Chama a atenção, de um lado, a sofisticação dos participantes - os homens, normalmente, vestem ternos escuros e as mulheres calçam sapatos de salto alto e belas lingeries - e, de outro, a existência de ambientes que parecem cativeiros sujos, escuros e empoeirados. Trata-se de uma contradição óbvia. Faz parte da fantasia. Tratar de BDSM é lidar com o termo ambiguidade. Prazer e dor. "Dominadores" e "dominados". Apesar de existir um "contrato", não há como negar que é um caminho de mão dupla. Quem, na verdade, exerce o poder sobre o outro? O que existe em comum é o elogio da dor física como forma de desconsiderar - esquecer ou "apagar" - a dor emocional, normalmente sofrida em frequentes abusos na infância. Neste sentido, por mais que pareça uma prática estranha, o BDSM representa, na verdade, um pedido de socorro ou talvez, na maioria dos casos, uma última alternativa de continuar vivo diante de uma existência sem sentido.
* Bondage & Discipline Dominance & Submission Sadism and Masochism.
Os adultos, em sua maioria, valorizam excessivamente o ato sexual. O "sexo em si" é a realização de um instinto natural. Só isso. Pronto. Entretanto, muitos colocam um mero instinto como o centro da vida, como a razão de tudo. Parece que, como diria a personagem de Julia Roberts no filme "Closer", têm 12 anos... A vida adulta, de um indivíduo civilizado, está, teoricamente, associada aos fatos complexos, daqueles que precisam de várias interpretações e apresentam, não raramente, várias possibilidades de resposta. Neste contexto, o sexo é tratado não como o ato "em si" mas como uma estratégia de poder, um discurso que permite estabelecer regras para controlar o outro. Quando os religiosos condenam a relação sexual fora do casamento ou o homossexualismo, eles não estão preocupados com o prazer ou não das pessoas e nem o que elas efetivamente fazem entre quatro paredes. O que importa para eles é utilizar o sexo como uma estratégia de controle ou como uma forma de ser autoridade sobre o outro. Matar o desejo do outro não gera grande prazer para uma autoridade. A satisfação vem do poder de dizer ao outro o que ele deve fazer. Trata-se de controle, de manipulação. É, basicamente, uma questão de poder. E o ato sexual? Quem se importa? Quem acredita? Sexo é só sexo. E o amor, a moral, a religião, a ética e os outros valores? Esses conceitos representam exatamente isso: outros valores. Associá-los ao sexo é só uma maneira de desviar o foco do essencial e, assim, conseguir controlar o outro.
Karl Marx já denunciava, no século XIX, as "tendências globais" do capitalismo e a transformação do homem em uma "mercadoria". A partir da revolução tecnológica proporcionada pelo computador pessoal e pela Internet, tudo isso aparece mais claro aos olhos de todos e muitos pensadores - como Domenico de Masi e Pierre Lévi - tentam explicar o mundo atual. Conseguem? Não. As transformações são muito rápidas. Alguns intelectuais, mesmo assim, tentam apresentar uma "resposta" para o que estaria ocorrendo no mundo. Na maioria dos casos, porém, aparecem mais palavras de ordem ou expressões gerais que servem para impressionar sobretudos as pessoas da classe média - consumistas e individualistas. Andrew Keen utiliza termos como:
"a superexposição dos usuários, (...) a 'doutrina da multidão' (...) 'geração sem mistério' (...) 'ditadura da ignorância'" *
Interessa aos capitalistas descartar as diferenças individuais e tratar as pessoas como uma "massa de consumo". Doutrina da multidão? Provavelmente... mas sempre foi assim de acordo com os princípios deste sistema. Para atingir os seus interesses e apresentar os seus objetivos particulares como a vontade da maioria, interessava às lideranças burguesas formar indivíduos alienados, pessoas incapazes de perceber que o que existira por trás desse discurso hegemônico. Ditadura da ignorância? Claro. Entretanto, isso é uma base do modo de produção e não algo criado recentemente. O problema da 'superexposição dos usuários' da Internet não seria apenas produzir uma 'geração sem mistério'. A questão estaria, provavelmente, na causa de tal exibicionismo. O elogio da ostentação também não é algo novo ao capitalismo. Os indivíduos tentam criar, com seus bens materiais - financiados - uma realidade que não é verdadeira, ou seja, todos querem "parecer" ricos e bonitos. As ferramentas da Internet - como Facebook ou Twitter - somente facilitam esse processo. Em suma, o capitalismo não mudou. O que aconteceu, com a tecnologia atual, foi um reforço de princípios que duram séculos.
Uma coisa é mulher sair sozinha para a 'balada'. Outro coisa é homem precisar sempre da companhia de um amigo para chegar em bares e boites. Lembrar uma crítica aos Rolling Stones feita por John Lennon:
"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."
Moro sozinho, sou divorciado, chego nos bares sozinho. Converso, algumas vezes, com um conhecido ou uma garota, mas sempre tenho o cuidado em ser o mais objetivo possível para não incomodar a outra pessoa. Saio pouco. Quando isso acontece, pego o carro, chego no bar, bebo, observo o ambiente e as pessoas. Se for o caso, fico no "fumódromo" na "companhia" de um cigarro ou (raramente) de um Cohiba. Depois pego o carro e volto para o meu apartamento. Não enche o saco dos outros e não sou incomodado. Ótimo. É bom lembrar que as pessoas que estão sozinhas nos bares não são necessariamente solitárias ou tristes. Elas querem, algumas vezes, ficar sozinhas. Não desejam conversar. Observam. Fantasiam. Sentem pena do visível tédio de certos casais que estão ali "por obrigação" de serem vistos. Afinal, existem indivíduos que acreditam no tema da série Gossip Girl: "você não é alguém enquanto as pessoas não falarem em você" ou, em inglês: "you're nobody until you're talked about..."
Sexta-feira, 17 de agosto de 2012........... SEXO PAGO E LIÇÕES DO CASO MATSUNAGA
1. Os homens em crise da meia-idade são carentes e buscam, com o sexo pago, os elogios que recebiam aos 20 anos; são, portanto, alvos fáceis; 2. Se o sexo é pago, é uma relação profissional, não deveria existir envolvimento emocional; 3. Se namorar uma profissional é algo complicado, casar com ela é inviável; 4. Mesmo pagando (mais) para ter exclusividade, isso nunca acontecerá; 5. Mesmo casada ou namorando, uma profissional, provavelmente, nunca deixará de ser profissional, isso significa que ela sempre fará programas; 6. Ela mente sempre, faz parte da sua profissão "alimentar a ilusão" do cliente; 7. Se, de maneira inconsciente, o cliente deseja a morte, as drogas e o sexo pago representam mecanismos eficientes para realizar tal objetivo.
Quinta-feira, 9 de agosto de 2012........... NATUREZA
Em um artigo, citando os exemplos de "Calígula" e "Império dos Sentidos", disse que as pessoas perdem o foco na história (e nos outros aspectos) de um filme quando aparecem cenas de sexo. Com "De Olhos Bens Fechados" de Stanley Kubrick não foi diferente. Trata-se de uma obra-prima, que mostra dúvidas e alternativas dos adultos na atualidade. A festa - com máscaras e orgias - reflete a falta de perspectiva (em relação ao sentido da vida) de ricos e poderosos. Aqui pode ser lembrada a cena de outro filme, baseado no diário de uma das secretárias de Hitler, "A Queda", que mostra o cotidiano no "bunker" do tirano e que, no final, quando tudo parecia perdido, as mulheres seduziram os homens e todos fizeram sexo como se fosse o último momento da vida deles. Em suma, tanto num filme como no outro, o "retorno" ao sexo representaria um "retorno" à natureza - a morte faz parte dela - e, ao mesmo tempo, demonstraria a obviedade da falta de sentido da existência.
A indústria cultural, após as duas grandes guerras mundiais, tornou-se algo fundamental para o capitalismo. Rádio, cinema, televisão, música... A mulher seria admirada como objeto de desejo e associada, na publicidade, com a venda de produtos. Após a invenção da pílula anticoncepcional nos anos 1950 e a partir da sua comercialização na década de 1960, a mulher deixou de ser apenas um objeto e passou a ser sujeito, reivindicando, em movimentos, a igualdade de direitos com os homens. A criação da Playboy em 1953, com a Marilyn Monroe na capa, representaria um marco na produção da mulher como objeto de desejo. Os filmes de Hollywood serviriam para reforçar o mito do que seria uma bela mulher. A construção dessa imagem mudaria ao longo das décadas seguintes. Como sabemos, a Geração Beat e a invenção do rock n' roll seriam fundamentais para os movimentos de libertação que aconteceriam nos 1960. "Sexo, Drogas & Rock & Roll" seria a síntese de um período histórico, com o movimento hippie e o sucesso de bandas inglesas como os Beatles e os Rolling Stones. Nessa época, os músicos de rock namoravam com as modelos - que não eram famosas e nem milionárias com as supermodelos da década de 1980 - e com as admiradoras que os seguiam por todos os lugares. Essas admiradores seriam rotuladas de "groupies". As modelos se consideravam diferentes das "groupies". A famosa modelo nos anos 1970, Jerry Hall, que foi noiva de Brian Ferry e depois casou com Mick Jagger, uma vez disse: "eu sou um pouco 'groupie'." Como negar? O fato é que as estrelas do rock casavam, namoravam ou ficavam, algumas vezes, ao mesmo tempo, com essas mulheres. Jimmy Page teve um caso com Krissy Wood, esposa do guitarrista dos Rolling Stones, sem que isso abalasse a amizade dos dois. No período, Ron Wood ficou com a amante de Page, Bebe Buell, que, em seguida, ficaria grávida de Steven Tyler. Anita Pallenberg se envolveu, em épocas diferentes, com Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards dos Stones. Cyrinda Foxe, que seria esposa de Steven Tyler, antes teve casos ou namorou com David Johnasen, Iggy Pop e mesmo Joe Perry. Jimmy Page casaria com Charlotte Martin, que havia ficado com Eric Clapton e George Harrison. Pamela Des Barres nunca se apresentou como modelo. Era "groupie" e pronto. Fazia parte de uma turma chamada GTOs. Eram garotas fanáticas por música e pelos músicos. Ela teve casos com Robert Plant, Jimmy Page, Mick Jagger, Keith Moon, Jim Morrison, entre outros. Posteriormente, ela escreveu livros sobre as experiências como 'groupie". Em resumo, os "rockstars" gostavam de belas mulheres. Muitos diziam que aprenderam a tocar guitarra e formaram bandas para poder ficar com as garotas. Mito ou realidade, o fato é que muitos músicos tornaram-se famosos e milionários e realizaram os sonhos dos fãs - como objetos ou sujeitos, pouca importava - participando da vida de lindas garotas, podendo ser, claro, famosas modelos ou "groupies".
Paulo Francis costumava dizer que "quem não tem sexo nem dinheiro, não pensa em outra coisa". Eu acrescentaria uma terceira coisa: poder. De fato, as pessoas utilizam a busca sexo, dinheiro e poder para evitar o óbvio: pensar em si, na sua própria condição de existência. Os indivíduos procuram construir uma lógica para justificar uma busca que nunca termina. Conseguiu dinheiro? Precisa procurar mais. Poder? Mais. E o sexo? Mais... Entretanto, nesse ponto, como conseguir mais? Em termos de quantidade, bastaria aumentar o número de parceiros. Mas, mesmo assim, pode ficar repetitivo. Faltaria "qualidade" ou para ser mais exato: "novidade". Aqui a invenção da Sex Shop representa uma ajuda. Limites? É difícil, mas torna-se necessário, exceto se, no fundo, o indivíduo deseja mesmo é a morte. O início é sempre o mesmo: anos de casamento, novas posições e, depois, conversas sobre as fantasias do casal. Visitas ao Sex Shop. Ménage à trois ("threesome")? Swing (troca de casais)? Depois da década de 1980, o swing virou "moda" no Brasil. Passou. O swing é um jogo perigoso na medida em que pode representar o fim do casamento. Para os solteiros, mais recentemente, surgiram as festas em fazendas com bastante álcool, drogas e orgias promovidas, algumas vezes, em "dark room" (uma ideia antiga usada em boites homossexuais desde, pelo menos, a década de 1970). Nos anos 1990, surgiu o termo BDSM (Bondage Discipline Sadism Masochism). Na prática, tornou-se comum relações que utilizavam os recursos do sadomasoquismo. Para quem se identificava com esse estilo, como no caso do swing, surgiram os clubes especializados. Um fotógrafo famoso da Playboy norte-americana, Ken Marcus, abandonou as fotos "convencionais" e passou a se especializar em BDSM, que ele associava ao termo "exquisite erotica". Juntamente com o BDSM, tornou-se comum o "sex tape" na Internet assim como o "snuff film" - que mostraria assassinatos supostamente reais. Onde tudo isso pode parar? A parada final pode ser a morte. Trata-se de um jogo, como seria a "asfixia erótica". Um exemplo: a causa oficial da morte de Michael Hutchence seria suicídio. Entretanto, a sua companheira na época, Paula Yates, insistia que isso não seria verdade, que o amante teria morrido numa auto-axifia-erótica. Os jogos sexuais podem ser perigosos pois, em sua maioria, escondem inseguranças ou traumas vividos na infância. Entrar nesse "universo" é um risco. Ficar na mesmice e na monotonia de uma vida sexual pode também não ser a melhor solução a ser adotada por um casal. No fundo, é uma questão de escolha.
No dia 14 de julho de 2012, Roseana Collor deu uma entrevista ao Fantástico da Rede Globo com o objetivo de revelar os erros do ex-marido. O que era para ser uma "entrevista bombástica" tornou-se motivo de piada no dia seguinte. O principal motivou foi a entrevistada se dizer evangélica e, ao mesmo tempo, afirmar que não seria justo receber uma pensão de "apenas" 18 mil reais. Outro ponto que chamou a atenção na entrevista da ex-primeira dama foram os rituais de magia negra praticados pelo ex-marido enquanto estava na presidência da República. Em linhas gerais, haveria uma "magia negra" em que o indivíduo faria rituais visando o benefício próprio ou o ataque aos seus adversários. Existiria ainda uma "magia branca", que defenderia o oposto, que seria, portanto, altruísta. Na série de "Charmed", por exemplo, aparece uma distinção entre as bruxas do "bem" e aqueles que seriam do "mal" - os chamados "warlocks". "Charmed" é ficção mas existem muitas pessoas que defendem uma perspectiva bastante diferente do cristianismo. É o caso do Jimmy Page - guitarrista do Led Zeppelin - que, em 1974, numa entrevista ao Melody Maker, tratou do assunto:
"No crepúsculo, (...) o amanhecer de uma Nova Era, você sabe, Lúcifer será o portador da luz, e não Satã, como querem os termos cristãos. (...) Olha isto, quando a igreja se iniciou, ela eliminou tudo, e não foram só os deuses pagãos, mas qualquer coisa que estava no seu caminho. Você conhece as atrocidades cometidas cometidas pela igreja. E o poder da igreja hoje está igual. Quero dizer, eles tentam incutir no pensamento das pessoas: 'obrigado Senhor Deus', e ficam batendo e nos importunando com isso." *
Outras pessoas famosas se apresentam como bruxos, como Alan Moore e o o escritor brasileiro Paulo Coelho. No filme "Código do Vinci", baseado no livro de Dan Brown, é citada a diferença entre o paganismo e o cristianismo:
"Os pagãos encontram a transcendência através da união de masculino para feminino. No paganismo, as mulheres eram adoradas como uma rota para o céu, mas a igreja moderna passou a ter um monopólio sobre isso... dizendo que a salvação seria com Jesus Cristo. E aquele que guarda as chaves do céu garante o domínio sobre as regras do mundo. As mulheres, então, tornaram-se uma enorme ameaça para a igreja. A Inquisição Católica logo publicou o que pode ser o livro mais sangrento na história: 'Malles Maleficarum' - 'O Martelo das Bruxas'. Esse livro instruía o clero a localizar, torturar e matar todas as mulheres que pensavam livremente. Em três séculos de caça às bruxas, 50.000 mulheres foram capturadas e queimadas vivas na fogueira."
Qual seria o sentido de falar em bruxaria no século XXI? Primeiro, muitos defendem tal concepção sem saber direito do que se trata. Seria como mais uma "moda". De qualquer maneira, fazem isso porque "podem", ou seja, em países democráticos, não existe uma censura explícita e, muito menos, ocorre uma perseguição ao indivíduo que se diz "bruxo". Em segundo lugar, além das divisões do cristianismo ao longo da história, não é mais segredo o que os líderes religiosos fizeram durante o período da Inquisição. Finalmente, nesse século, após as desilusões com as práticas associadas ao catolicismo e, no campo político, ao comunismo "real", não sobraram muitas alternativas para as pessoas acreditarem num grande projeto como resposta para a incerteza do futuro. O cinismo e o niilismo são hegemônicos atualmente.
* Jimmy Page, entrevista feita por Michael Watts, Melody Maker, 07/09/1974. Tradução: Selmane Felipe de Oliveira. The Rover - Boletim Zeppelin-Maníaco, n° 3 Nov. Dez. e Jan. 1984 e 1985.
Quem, a partir de uma viagem de avião, vê uma cidade, lá embaixo, algumas vezes, percebe que aquilo que parece ser "tudo", como uma metrópole, na verdade, poderia ser comparado a um formigueiro. É interessante que mesmo assim muitos indivíduos chamados de "normais" acreditam que todo o universo existiria a partir deles. Claro, os alienados não se percebem como alienados, eles realmente acreditam que a ilusão corresponderia à realidade. Lendo um depoimento do Salvador Dalí - constantemente ele tinha que explicar que não era louco -, entendi que o "verdadeiro louco" também não se percebe como tal. No caso da loucura, o conceito e o contexto histórico devem ser considerados (ler o livro o Foucault sobre o tema).
Enquanto estão vivas, algumas pessoas são importunadas constantemente, em nome do "amor", por familiares e amigos. Trata-se do chamado "fogo amigo". É difícil lutar contra isso pois os ataques, organizados em verdadeiras conspirações, aparecem normalmente como atitudes normais de indivíduos que, alguns se dizem religiosos, "só querem o bem do próximo". Utilizar a religião como uma aliada daria um caráter de "imparcialidade" aos agressores. O suposto objetivo - "o bem do próximo" - garantiria a "superioridade" dessas pessoas. Isso lembra um depoimento de Freud:
"O selvagem pode cortar a sua cabeça, comê-lo, torturá-lo, mas ele vai poupá-lo das pequenas provocações que, às vezes, tornam a vida em uma comunidade civilizada quase insuportável." (A Arte da Entrevista, p. 95)
Além de lidar com as contradições "internas" e os inimigos "externos", o ser humano ainda precisa ficar atento ao "fogo amigo". E, para alguns, isso seria uma "evolução"...
BDSM não é crime. É considerado, por muitos, uma perversão. Problema? Basta pensar nas questões freudianas. Neste contexto, Jacques André afirma:
"A culpabilidade evoca a falta e, assim, a 'sequência de Édipo': desejo - proibição - transgressão." (Préface, FREUD, La malaise dans la culture, p. XVI)
Em outras palavras, a transgressão é uma forma de resistência aos limites impostos pela civilização. A perversão poderia ser vista também como resistência? Do ponto de vista geral, da civilização, é interessante perceber que a centralização de poder da igreja na Idade Média reforçou a tese da culpa - o indivíduo "nasce no pecado" -, as técnicas de tortura - na Inquisição - e o autoflagelo como forma de tentar "limpar os pecados" a partir da dor. O sentimento de culpa persegue o sadomasoquista. Essa culpa está associada aos abusos sofridos na infância. Trata-se, basicamente, da culpa de "não ser amado". Nas guerras e nos regimes ditatoriais e totalitários, os militares "inovaram" criando várias e novas técnicas de tortura. O nazismo, em especial, tornou-se um símbolo nesse sentido. Não foi por acaso, aliás, que o uniforme nazista passou a ser utilizado nas práticas de BDSM. O autoflagelo usado por religiosos, com o cilício, por exemplo, ainda deve ser associado ao pecado. No BDSM, a utilização do autoflagelo representa algo diferente: o recurso da dor física torna-se uma forma de tentar "apagar" uma dor emocional - normalmente um trauma sofrido na infância. Em suma, apesar de ser visto como uma "aberração", o BDSM é resultado das contradições criadas pelos ditos "homens civilizados". Prazer e dor fazem parte da chamada condição humana.
Criticar a democracia [e não os políticos atuais] é um jogo perigoso e abre espaço para "alternativas" e ações totalitárias, como: √ os políticos da extrema direita na Grécia; √ o atentado na Noruega e √ a experiência alemã com Adolph Hitler. As pessoas devem compreender que existe, no Brasil, uma crise dos partidos políticos e NÃO da democracia ou da política. Na verdade, os líderes políticos atuais confundem o eleitor. Exemplo: o PT é aliado do PP em São Paulo e é adversário do mesmo PP em Uberlândia... Depois os políticos ainda reclamam que os eleitores não votam nos partidos políticos e sim nos candidatos... Ainda sobre as eleições... O partido dos Democratas pediu explicações sobre as acusações feitas contra Demóstenes. O senador não soube explicar. Foi expulso. Por que os líderes do PSDB não fizeram a mesma coisa com o Perillo? O Lula, na sua chantagem contra o ministro do STF, disse que tinha "o controle da CPI do Cachoeira". Deve ser verdade. Provavelmente essa CPI foi criada para desviar a atenção sobre o julgamento do "mensalão". Se isso é correto ou não tornou-se secundário diante de uma pergunta simples: como negar que existia "a quadrilha do Cachoeira" e que o governador do PSDB e os políticos do PT faziam parte dela? Aliás, com a CPI do Cachoeira, o Lula, mais uma vez, "sacrificou" companheiros petistas em nome de um suposto projeto nacional. Ele fez isso na época do "mensalão" e os companheiros petistas aceitaram tudo em nome do partido e agora, provavelmente, serão condenados. E o Lula? O advogado de Marcos Valério, o "operador do mensalão", lembrou do ex-presidente para defender o seu cliente:
"mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, como o próprio presidente Lula." *
Chantagear um ministro do STF apresentou o resulto oposto do que esperavam os petistas. E agora? Uns ficarão contra os outros [como fez o advogado de Marcos Valério]? E os ministros do STF, apresentarão o resultado final ainda em agosto, antes das eleições? Logo essas questões serão respondidas.
Quarta-feira, 11 de julho de 2012........... AUTORIDADE, PERDA & CULPA ² (citação em português e em francês)
A "influência externa" (que reflete o superego) não é mais aquela do pai que diz "não" e da castração, mas trata d o mais arcaico "domínio d o outro" (...) "da autoridade incontestável" (...), "os pais" ao invés do pai sozinho. A ansiedadenão é mais da castração, mas d a perda do amor. O sentimento de culpa, "variedade tópica de ansiedade" (...), está associado ao tópico : então é culpado pelo amor perdido, é culpado de não ser amado. A neurose de compulsão é o horizonte do caminho do superego em sua primeira expressão, a melancolia (mas também a histeria e o seu núcleo de passividade) está associada ao cenário que corresponde ao seu segundo momento. Jacques André, Préface, Freud, Le malaise dans la culture, p. XVIII.
L' " influence extérieure " (que reflete le surmoi) n'est plus celle du père qui dit " non " et de castration mais celle plus archaïque de " l'autre surpuissant " (...), " l'autorité inattaquable " (...), " les parents " plutôt que le pére seul. L'angoisse n'est plus de castration, mais devant la perte d'amour de la part de l'objet. Le sentiment de culpabilité, " varieté topique de l'angoisse " (...), ne demande qu'à suivre : on est alors coupable de l'amour perdu, coupable de ne pas être aimé. La névrose de contrainte est l'horizon du surmoi première manière, la melancolie (mais aussi l'hystérie et son noyau de passivité pulsionnelle) se profile en toile de fond de second. Jacques André, Préface, Freud, Le malaise dans la culture, p. XVIII.
ESSAS: Eu gosto muito de algumas pessoas. Elas são inteligentes, sensíveis e éticas.
AQUELAS: Muitas outras, a maioria, valorizam coisas superficiais, são falsas, convencidas, agressivas, óbvias, preconceituosas e se consideram melhor do que as outras por causa do dinheiro, da religião, da raça, do conhecimento ou do sexo. Essas pessoas adoram subestimar a inteligência dos outros. Acreditam que enganam. Adoram autoelogio. Elas fingem ser felizes. São alienadas. São, basicamente, pessoas que evito o contato.
O ex-presidente Lula acredita que realmente é especial e que a sua popularidade lhe daria poderes especiais, como pressionar e chantagear um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido de adiar os julgamentos dos seus amigos no processo do "mensalão". Parece que Lula acredita ainda que as pessoas não lembram da sua oposição radical ao Paulo Maluf. A aliança com o ex-governador de São Paulo - com direito a uma foto histórica - deveria constranger qualquer petista que conhece a história do partido. A crença em "poderes especiais" pode ser explicada pelo poder que Lula exerce no Partido dos Trabalhadores, mas não há como negar também o papel dos dirigentes dos meios de comunicação de massa que insistem em não mostrar os grandes erros do seu governo. O mais óbvio e que não é debatido é o aumento no número de funcionários públicos, inclusive na ampliação de unidades do ensino superior. Ampliar, contratar e criar novas despesas era uma tarefa fácil para o ex-presidente - que conseguia a simpatia dos trabalhadores, sindicalistas e, portanto, obtinha um aumento em termos de votos nas eleições. O problema, claro, seria do seu sucessor, que teria que pagar os salários e cuidar da manutenção adequada das novas e das antigas unidades do governo federal. Esse é o problema da presidente Dilma. A greve nas universidades federais é justa, mas o problema não foi criado pela presidente atual. O mentor do projeto foi p ex-presidente Lula e a presidente Dilma não pode denunciá-lo não apenas por ser do mesmo partido político mas sobretudo por vê-lo como seu "padrinho político". É o que, entre alguns pensadores da esquerda, chamam de "complexo da dívida". Em 2009, no portal Terra aparecia uma matéria com o título: "Número de funcionários públicos cresce 11,75% no governo Lula". Os dados eram claros:
"O Executivo federal tem hoje 542.843 servidores civis ativos, um acréscimo de 11,75% em relação aos 485.741 servidores no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. De acordo com o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, houve a contratação de mais 57.102 servidores de 2003 até agora. Deste total, mais de 29 mil contratações ocorreram na área de educação, sendo 14 mil professores." *
No Valor Econômico, em 09/07/2012, diante de uma "ameaça de greve geral", Lula era lembrado:
"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a sua experiência de sindicalista, certa vez comparou a greve dos funcionários públicos a férias remuneradas. Por isso, no Brasil de hoje, existem trabalhadores de primeira e de segunda categoria: os servidores públicos, com todas as suas vantagens e um direito de greve especial; e os trabalhadores da iniciativa privada." **
A greve geral seria algo justificável, de acordo com o presidente da CUT, Artur Henrique:
" 'Não dá para retroceder em relação aos oito anos de governo Lula (...) Não dá para esticar essa corda', diz, cobrando uma resposta rápida do governo, o que, segundo ele, poderia evitar uma greve geral dos servidores." ***
Seria uma luta dos petistas contra petistas? O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, na mesma matéria do jornal Estado de São Paulo, afirma que trata-se de
"um jogo de xadrez bem complexo." ***
Complexo? Por quê? O problema seria como resolver uma crise iniciada pela liderança do PT sem "manchar a imagem" do Lula? O "jogo de xadrez" contará com novas "peças" do STF no julgamento do "mensalão" em agosto. Nesta nova etapa, provavelmente será mais difícil manter "limpa" a história política do ex-presidente Lula.
* Número de funcionários públicos cresce 11,75% no governo Lula. 06/10/2009. http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4024735-EI7896,00-Numero+de+funcionarios+publicos+cresce+no+governo+Lula.html ** Ameaça de greve geral reaviva velhas discussões. Valor Econômico, 09/07/2012. http://www.valor.com.br/impresso/ Apud http://servidorpblicofederal.blogspot.com.br/ *** Marta SALOMON e Tânia MONTEIRO Sem Lula no Planalto, CUT aumenta pressão sobre Dilma por salário maior. O Estado de S.Paulo, 09/07/2012.......... http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-lula-no-planalto-cut-aumenta-pressao-sobre-dilma-por-salario-maior-,897828,0.htm
Primeiro, porque ele pode, ou seja, consegue ser atraente, de várias maneiras, para uma garota tão nova.
Segundo, esse homem, muitas vezes, não tem filhos. Isso é importante pois ele não tem o limite de que "essa garota é da idade da minha filha".
Terceiro, com 50 anos, é divorciado, tem sua própria casa e seu próprio carro. Possui uma independência. Em outras palavras, não precisa dar satisfações aos outros.
Quarto, com 50 anos, ele vive aquilo que chamam de "crise da meia idade", ou seja, ele parou de subir e começou a descer "a ladeira". O ponto final, claro, é a morte.
Assim, depende de cada caso, um prefere comprar um carro vermelho e usar medalhas de ouro, outro pinta os cabelos, outro namora com ninfetas e assim por diante. Em suma, cada um tenta recuperar algo de bom que teve na vida.
O Caetano Veloso, em uma de suas músicas, diz que só seria possível filosofar em alemão. Essa ideia, se eu não me engano, era defendida originalmente por Martin Heidegger. Eu fiz o curso básico de alemão, na época que fazia faculdade. Fui na Alemanha três vezes e, especialmente em Berlim, não era fácil encontrar alguém que falasse em inglês. Assim, não havia alternativa a não ser utilizar a língua original. Fiz isso. Contudo, não significa que eu fale alemão. É difícil encontrar algum brasileiro que realmente fale essa língua. O Jô Soares, que estudou na Suíça e diz que fala alemão, na hora que foi entrevistar o Beckbauer, "preferiu" que a entrevista fosse em inglês. Eu não sou tradutor, nem de inglês nem de alemão. Também não sou daqueles que odeiam tecnologia e rejeitam as suas facilidades. Eu sei que cada vez fica mais fácil traduzir um texto "automaticamente" de uma língua para outra, mesmo considerando que a tradução não seja lá essas coisas. Não sou do tipo implicante que acredita que você só pode ler um texto na língua em que ele foi escrito. Assim, quando posso, leio o original, mas não me importo em ler também as traduções. Naturalmente, algumas vezes eu comparo os textos e aqui realmente surge um problema: assim como nos filmes, algumas vezes, o que é traduzido não representa o original. Trata-se da imaginação do tradutor. Posso dar um exemplo: o texto "Fausto" de Goethe - Original: Faust: Eine Tragödie, Wien, Tosa Verlag, 2003, p. 14 e Tradução: Alberto Maximiliano, São Paulo, Nova Cultural, 2003, p. 19. Numa das falas da personagem "Lustige Person", é dito:
"Wenn mit Gewalt an deinen Hals / Sich allerliebste Mädchen hängen."
Isto é traduzido por:"Ou quando em teu pescoço apóiam-se amorosas / As jovens que tanto gostas." Apesar da tradução do "se" (wenn) por "ou", o sentido original da frase permanece. Agora em seguida aparece trecho:
"Wenn nach dem heft'gen Wirbeltanz
Die Nächte schmausend man vertrinket,
Doch ins bekannte Saintenspiel
Mit Mut und Anmut einzugreifen,
Nach einem selbstgesteckten Ziel
Mit holdem Irren hinzuschweifen."
A "tradução" do trecho para o português:
"Ou se ficas em danças loucas, violentas,
Toda noite a comer e beber em alegria,
Entregue a orgia.
Hoje, a música de outrora podes lembrar,
Fazê-la ressoar com vigor, sem parar
Para um fim almejado
Por suas atalhos alcançados."
Como seria possível tal "liberdade" do tradutor? Não digo apenas no sentido das palavras, mas no contexto das frases e de todo o parágrafo... Onde o tradutor foi encontrar, por exemplo, no texto original, a frase: "toda noite a comer e beber em alegria, entregue a orgia." (?!)
Imagino que esta não deve ser uma profissão fácil, sobretudo, se for levado em consideração o ponto de vista da consciência do próprio profissional, claro. Afinal, a maioria lê pouco e praticamente apenas as traduções, sem se preocupar, muitas vezes, com o sentido do texto... Imagino se este tipo de leitor questionaria se o autor alemão queria realmente dizer aquilo...
De qualquer maneira, quando você resolve pesquisar um pouco mais, questionar, acaba descobrindo ou lidando com tais dúvidas ou polêmicas. Isso não é ruim. Como em quase tudo, saber mais é sempre útil, na medida em que ajuda o indivíduo a ver melhor a realidade das coisas e das pessoas, podendo, assim, separar as cópias superficiais dos originais.
Segunda-feira, 2 de julho de 2012........... SONO & SONHO
David Grant, num artigo sobre depressão, afirma que:
"if you have trouble sleeping, turn on the radio or watch TV"
Sempre faço isso. Nunca durmo "com o silêncio". Normalmente, ouço a discografia do Led Zeppelin enquanto durmo. Por algum motivo, o som do Led Zeppelin não causa pesadelos (diferente de outras bandas).
Isso leva ao problema do sono: algo externo pode interferir no conteúdo do sonho? Freud:
"Le dormeur peut réagir de plusieurs manières à l'égard d'un stimulus sensoriel venu de l'extérieux." (Sur Le Rêve, p. 128)
Em outras palavras, algo externo pode interferir no sono mas não pode determinar o conteúdo do sonho. Nada controla o conteúdo do sonho. Existe uma linguagem própria quando as noções de tempo, espaço e lógica desaparecem. Trata-se do "reino do inconsciente", diria Freud. E tinha razão.
É impossível ao "civilizado" ser direto. Tudo o que ele diz ou faz... É PENSADO ANTES... Mesmo quando tal fala e tal ato aparecem aos ingênuos como algo "espontâneo" e "verdadeiro".
O chato do jogo é quando insistem em subestimar a sua inteligência.
A manipulação faz parte da "maravilhosa" condição humana. Seria interessante, porém, que as pessoas, sobretudo aquelas nos meios de comunicação de massa, fossem mais inteligentes e utilizassem estratégias mais sofisticadas.
A tentativa de suicídio é uma forma de chamar a atenção, de denunciar que existe algo errado. A realização do suicídio na próxima tentativa torna-se uma acusação: a ajuda necessária para impedir o ato não veio. O suicídio de uma pessoa denuncia, em primeiro lugar, o ambiente em que ela vive: a família, a escola, a religião, o hospício, o presídio, o exílio, entre outros. Os indivíduos que convivem com a pessoa com tendências suicidas são fundamentais para que ela realize o ato ou não. Em segundo lugar, aparece o fato interno: a depressão. Ela pode ser biológica, pode ser influenciada por fatores externos, mas o que importa é que essa dor insuportável pode levar a morte. A pessoa que tem depressão, no momento da crise, deseja estar morta - o que é diferente de tentar se matar. Ela deseja qualquer coisa que a livre daquela dor. Na realidade em que ela vive, não aparecem soluções imediatas. A dor não espera. A pessoa, então, imagina que "sair dessa realidade" significaria, no mínimo, se livrar daquela dor. Existe um recusa ao mundo real que tornou-se sinônimo de depressão. Neste sentido, o suicídio não é uma opção pela morte. É o contrário: o suicídio representa uma falta de alternativa para viver nesse mundo. Em terceiro lugar, lidar com a depressão e o suicídio leva ao debate sobre a culpa. O erro comum é colocar na vítima a culpa pelo ato: ela suicidou porque era fraca. É um erro usado pelo tipo de indivíduo que se omite diante de qualquer situação e sempre procura no outro a responsabilidade por uma falha que, algumas vezes, foi ele que cometeu. O suicídio não é resultado de um único fator, nem acontece de uma vez, sem ser pensado antes. A pessoa com tendências suicidas costuma ter um plano de como poderia cometer o seu ato. Isso não quer dizer que o ato irá necessariamente acontecer. A pessoa pensa em suicídio, na morte, quando a vida não aparece como algo bom e agradável para ela. Se o ambiente for favorável, mesmo com um histórico familiar, com uma influência biológica na depressão, a pessoa consegue viver normalmente com a ajuda de antidepressivos, de terapia e, sobretudo, com o apoio de familiares e amigos. Em países ricos, é comum ver pessoas que assumem as depressões, as tendências suicidas e até mostram as marcas de automutilação. Nada disso, porém, impede que elas estudem, trabalhem e obtenham sucesso nos seus projetos. Em países pobres, como o nosso, a realidade é outra:
"(...) no Brasil, os pobres que padecem de depressão raramente são tratados e sofrem e morrem como moscas." *
Ou seja, dependendo da classe social (e, portanto, do nível de escolaridade e informação dos familiares) ou mesmo do país que o indivíduo vive, ele pode não apenas ser aceito pela sociedade como ter uma vida longa e normal. Quanto mais atrasado o país e pior as condições sócio-econômicas da pessoa, mais difícil fica a sua luta contra a doença.
* SOARES, Gláucio. jb on line. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/06/07/a-doenca-invisivel/
A garota é educada para dizer "não", para rejeitar. Deve ser divertido, imagino. Ela não é criada para ouvir "não". Ser rejeitada não faz parte do plano. Quando isso acontece, a reação é imediata: "ele deve ser gay." Isso não funciona comigo. Rejeitei, algumas vezes, propostas de garotas na noite e ouvi em seguida: "você é gay?" A pergunta estratégica não teve efeito: eu não fiquei com elas para provar a minha masculinidade. Não tinha nada contra as meninas. A conversa era interessante. Só não queria beijá-las ou algo mais. Eu não queria "especificamente" com elas, se fossem outras, poderia ser diferente. As garotas mais jovens, aparentemente, parecem se revoltar mais quando um homem rejeita esse tipo de iniciativa. Elas acreditam nos discursos das mães de que seriam "as princesas mais lindas do mundo." Algumas não são, mas ainda acreditam na fantasia. Essas garotas acreditam que não precisam ler nem ter uma boa conversa. São lindas, gostosas e, portanto, o sucesso estaria garantido. Como diria Mário Prata "acreditam ter dito tudo despindo o vestido." Seriam de "ter pena". Mas nem isso. Enfim, merecem ser rejeitadas. Não adianta tentar explicar para essas garotas os motivos de tal atitude. Elas não entenderiam mesmo. As garotas gostam de dizer: uma conversa é só uma conversa, "sou legal não estou te dando moral" ou um "não" é "não" e pronto. É isso. Trata-se de algo que vale para todos, inclusive para elas.
Segunda-feira, 18 de junho de 2012...........
ALEISTER CROWLEY: MAGIA E ORIGINALIDADE
Antes do cristianismo, havia várias e diferentes religiões tanto no ocidente como no mundo oriental. Uma delas era o Taoísmo, descrita por Charles Guignon [(ed.) The Good Life, p. 1] como:
"(...) uma antiga escola de pensamento, (...) defendeu o 'deixa-estar' como abordagem de assuntos mundanos, um modo de vida caracterizado pela sintonia com a natureza e o cultivo de quietude e paz interior."
Jacques Lacan (Mais, Ainda, p. 156-157), em um dos seus seminários lembrava da associação do taoísmo com o sexo:
"No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É preciso reter a esporra, para ficar bem. O budismo, este é o exemplo trivial por sua renúncia ao próprio pensamento.”
Aleister Crowley (1875-1947), ficou "famoso por algo chamado 'sexo mágico', ou seja, manter uma relação sexual indefinidamente sem ter orgasmo para produzir êxtase e intoxicação." (Stephen Davis, Hammer of gods, p. 86) Basicamente, tratava-se da concepção do taoísmo. Crowley tinha 25 anos quando Freud publicou "A Interpretação dos Sonhos" em 1900. Teoricamente, deveria saber sobre as obras do Marquês de Sade (1740-1814). Sade e Crowley sempre foram vistos como autores pornográficos. Crowley ainda tinha interesse pela magia misturada ao sexo, o que, de certa forma, remetia os seus ensinamentos aos rituais pagãos que existiam antes do cristianismo. Freud, apesar de tratar da temática sexual, era um pensador sério, médico, pesquisador, cientista e inventor da psicanálise. Na sua análise sobre o comportamento humano, estava o debate sobre o sexo, mais precisamente o que estaria por trás do desejo sexual. Décadas depois, em "História da Sexualidade", o filósofo Michel Foucault trataria o sexo basicamente como estratégia de poder. O sexo, a religião e a filosofia estavam presentes naquilo Aleister Crowley acreditava. Uma questão que surge é saber a influência de concepções tão distintas - como as defendidas por Freud, Sade e taoísmo - em sua obra. Ele vinha de uma família de classe média, com boa situação financeira. Os seus poemas tinham sido publicados em Oxford. Portanto, como negar a importância de tais teorias? Existe uma possibilidade. O "bruxo" Paulo Coelho é muito criticado por vários motivos. O que chama a atenção no escritor brasileiro é, aparentemente, a crença de que ele não precisaria saber sobre as outras teorias, pois o seu conhecimento, publicado em seus livros, viria da "magia". Seria como admitir que a história do pensamento começasse com ele, Paulo Coelho, o que seria um absurdo. Paulo Coelho foi parceiro do músico Raul Seixas. Ambos, influenciados pela teoria de Crowley, defendiam uma "Sociedade Alternativa". Na música aparece:
"Faz o que tu queres / Pois é tudo / Da Lei! Da Lei!"
Trata-se de um frase literal de Crowley - "Do what thou will, so mete it be" - citada no "The Book of The Law (Apud Stephen Davis, p. 85) Antes de Raul Seixas e Paulo Coelho, músicos do rock internacional já tinham resgato os ensinamentos de Crowley, como o guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page. Parece que a questão da originalidade não é algo levado muito a sério por aqueles que se dizem "bruxos". Isso, porém, não justificaria, por exemplo, a defesa do cristianismo, que, de acordo com o documentário "Zeitgeist", também não era original.
Li entrevistas de Paulo Coelho, Alan Moore e Jimmy Page. Eles sentem simpatia pelo ocultismo. Não gostei do perfil do Paulo Coelho na medida em que ele insistia no autoelogio e se dizia melhor que os outros por causa dos seus bens materiais. Alan Moore se mostrava mais discreto, mesmo sendo considerado o melhor escritor de quadrinhos para adultos - "graphic novels" ou "comic books". Jimmy Page, mesmo sendo um dos melhores guitarristas do rock e líder de uma das principais bandas - Led Zeppelin -, não citava bens materiais e discutia assuntos gerais, sobretudo no que dizia respeito a sua música. Para mim, o Led Zeppelin foi o melhor grupo de rock. A primeira história que li do Alan Moore foi "A Piada Mortal" ("The Killing Joke") sobre o Batman e o Coringa. Fiquei impressionado. Depois li sobre John Constantine e outras histórias. Tornei-me fã do seu trabalho. Considero Moore e Frank Miller as principais referências no universo dos quadrinhos. Não me interessei pelos livros de Paulo Coelho. Na década de 1970, me incomodava ser fã de uma banda que seus músicos eram associados ao ocultismo. Depois, separei as coisas. Eu sou fã do trabalho de Jimmy Page, o que ele acredita ou não, na sua vida pessoal, era, claro, de interesse só dele. Vi o filme "Exorcista" no cinema, quando era adolescente e fiquei muito assustado na época, principalmente porque conhecia várias pessoas que acreditavam em religiões, superstições e mitos. Após algumas décadas, essas preocupações ficaram sem sentido. Se antes o rock era "música do diabo", atualmente existe vertente evangélica no heavy metal. Filmes como "Exorcista" não assustam mais. As pessoas têm medo de assaltos e não de coisas sobrenaturais. Antes os indivíduos acreditavam em grandes projetos, religiosos ou políticos. Hoje predomina o ceticismo e o cinismo. Nos anos 1970, eu não sabia inglês, não podia ler em alemão, não tinha viajado para a Europa, não conhecia os autores clássicos da filosofia, da história, da economia ou da ciência política. O ano 2000 parecia algo distante na minha adolescência. Anda lidamos com mitos. Muitos se recusam a pensar na própria morte. Outros temem o fim do mundo. Para esses últimos, 2012 será interessante por causa das profecias de Nostradamus e dos Maias. Contudo, acredito que a maioria possui uma visão crítica e a mentalidade das pessoas das décadas anteriores aparece, na atualidade, associada a uma certa ingenuidade.
Eu vi o show do Judas Priest no Rio em 1991. Bom show... Som pesado... A cena inesquecível do vocalista Rob Halford entrando de moto no palco... Na época, ninguém imaginava que ele era gay. A polêmica foi assumir a homossexualidade num universo "só de machos" (na primeira noite do heavy metal no Brasil, por exemplo, em 1985 - sim, eu estava lá... -, o Rock in Rio parecia mais um "pátio de prisão", com um público basicamente masculino e com roupas negras). Neste contexto, ficaram famosas as fotos do Robert Plant beijando o Phil Collins na boca e outras dele com vestido e sapatos de salto alto. O ex-vocalista do Led Zeppelin, diferente de Halford, nunca foi gay, casou algumas vezes e sempre se envolveu com as "groupies". Ainda sobre o Led Zeppelin, Jimmy Page, quando usava heroína, gostava de se envolver com "drag queens" em boite gay. Ele também foi casado algumas vezes, gostava de BDSM e "groupies". BDSM era uma prática do Michael Hutchence do INXS. A sua imagem ficou associada aos namoros com belas mulheres, como a supermodelo Helena Christensen e a vocalista "pop" Kylie Minogue. Ele gostava de elogiar os excessos do "Sexo, Drogas & Rock & Roll":
"Até agora, tudo bem. Eu não quero parecer um 'cliché'. (...) Fico surpreso ao perceber que sobrevivi a tanta coisa...e os meus amigos também. (...) Essa é a indústria. Bem vindo a festa. Jimi Hendrix está lá em cima. Mas passar por isso é fantástico." (Vox, November 1995, p. 36)
Uma crise séria, que envolveu Bob Geldof e a sua esposa, na época, Paula Yates, levou Michael Hutchence ao suicídio em 1997:
"Tanto que, ao revistar o quarto de hotel onde o cantor morreu, a polícia encontrou um frasco do antidepressivo Prozac. Há pelo menos uma razão para essa depressão. Paula Yates enfrentava uma batalha judicial com seu ex-marido, o também cantor de rock Bob Geldof, pela custódia dos três filhos que tiveram juntos. Geldof sabia que não tinha muita chance de conseguir a custódia mas fazia isso para se vingar, já que havia sido vítima de adultério. Essa situação também deixou Hutchencefurioso. Horas antes do suicídio, ele chegou a telefonar para o cantor irlandês que lhe bateu o telefone na cara. Ao saber da morte do parceiro, Paula, que se encontrava em Londres, não hesitou em culpar Geldof."*
O ambiente do rock, mais do que em qualquer setor da sociedade, ficou associado aos excessos, imagens e poses. Em algumas bandas, por exemplo, muitos nem sabiam tocar os instrumentos musicais. Depois da década de 1980, com a MTV, isso seria mais comum. No final, o que fica? Depressão, homossexualismo, droga, alcoolismo, BDSM... Quem se importa? No caso do rock, se a música for realmente boa - Beatles, The Rolling Stones, Led Zeppelin, The Jimi Hendrix Experience, entre outros -, o resto não seria tão importante.
*Celso Masson. Instinto de morte. Veja. 03/12/1997. http://veja.abril.com.br/031297/p_131.html **As citações utilizadas aqui foram usadas antes em outro artigo (Michael Hutchence & Bob Geldof).
Gosto, algumas vezes, de observar as mulheres. Vê-las passeando entre as mesas dos bares, lindas, orgulhosas e com todo aquele poder de sedução. Entretanto, algumas dão sinais de que não estão tão bem. Até nas fotos das redes sociais, colocam a famosa foto do perfil com "os olhos" contando que estão em crise. Por quê? Se antes, eu, como qualquer homem, poderia ficar intimidado com o poder da sedução, depois, como num passe de mágica, vem uma sensação de (quase) pena daquelas garotas. O que teria saído errado com elas? São formadas, trabalham, lindas, mas... Namoraram vários anos, algumas desde a adolescência, o mesmo rapaz e, depois dos 25 anos, o namoro acabou, o casamento não aconteceu, a crise chegou. Insônia. Alcoolismo. Drogas. Fanatismo religioso. Cobrança dos pais para casar... Pressão da sociedade... O pior é a sensação dos olhares dos homens como se elas fossem "as garotas para levar para os motéis e não cumprimentar no dia seguinte"... Pode ser que esses pensamentos ocorram somente no meu caso, no meu canto, bebendo sozinho e desejando que uma daquelas garotas em crise, pelo menos uma, fosse a minha companhia por uma noite. Claro, eu a cumprimentaria no dia seguinte, mas ela não seria a minha namorada.
O mercado - esse "ser invisível" (com "mãos", diria Adam Smith) - define como produtivo uma pessoa até aos 40 anos. E depois? Ela é descartada como qualquer mercadoria velha (diria Karl Marx). Corinne Maier (p. 64) esclarece que as coisas tornam-se mais complicadas após os 50 anos:
"No plano histórico, a seleção dos empregáveis (...) na área de planos sociais ou dos cortes de empregados atingiu de cara, os assalariados de mais de 50 anos. Fora cinqüentão! (...) O resultado é que hoje [2005] na França apenas um terço dos homens da faixa etária de 55-64 anos trabalha: um recorde mundial!"
Do ponto de vista do indivíduo, o que fazer? Se ele for ex-presidente da República, como o Lula e o FHC, pode criar um instituto para pesquisar "sobre ele mesmo". Mas isso é raro. O indivíduo comum cria uma pequena empresa com o dinheiro da demissão "voluntária" e finge que é empresário. Mais importante: finge que trabalha e que nada mudou. Essa é uma opção. Existe o tipo que insiste em procurar emprego (por anos, por décadas). Nos dois últimos casos, a solução encontrada seria "sair de casa" durante o dia e "parecer" que faz algo, como no filme "Um Dia de Fúria", estrelado por Michael Douglas. Depois dos 40 anos, a pessoa já se deparou com algumas crises sérias. Além da falência e do desemprego, ela pode ter enfrentado o fim de um casamento, a morte de um familiar, traições de vários tipos, entre outros problemas. No "fantasma" do mercado - sempre ele... -, inventaram um nome para isso: "crise da meia-idade". É interessante perceber que, nesse discurso, a crise seria "do indivíduo", ele seria a "causa" do problema e não o tal mercado que o descartou... Pior do que isso, é que o indivíduo acredita nessa ideologia, pinta os cabelos, faz plásticas, tenta "parecer jovem" para "ser aceito" pelo mercado. Não pretendo repetir as críticas de Karl Marx ao discurso sobre mercado de Adam Smith. Trata-se de um ideologia, é óbvio. "Essa mão invisível" do mercado é uma ilusão. O que impressiona é que um discurso do século XIX ainda seja aceito como uma verdade absoluta nos dias atuais. Patético, para dizer o mínimo...
Quem tem superstição não gosta muito de conversar sobre o assunto e, muito menos, admitir que seria uma pessoa supersticiosa, pois isso significaria que ela não se sentiria como a verdadeira responsável por seus atos. Freud esclarece as diferenças entre ele e um supersticioso:
"(...) primeiro, ele projeta para fora uma motivação que eu procuro dentro, segundo, ele interpreta mediante um acontecimento o acaso cuja origem eu atribuo a um pensamento." (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 223)
Explica ainda o que existiria em comum entre a sua teoria e a postura do supersticioso:
"Mas o oculto para ele corresponde ao que para mim é inconsciente, e é comum a nós dois a compulsão a não encarar o acaso como acaso, mas a interpretá-lo." (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 223)
E daí? Ora, primeiro, o óbvio: um supersticioso não gosta de conversar sobre o assunto pois teme "aprender" outras formas de superstição - seria algo como um "contágio". Trata-se, de fato, de uma situação de insegurança do indivíduo. Portanto, ele até pode não abandonar a superstição, mas deveria compreendê-la, sobretudo a sua origem, para poder não levá-la tão a sério. Em segundo lugar, na medida em que "não encara o acaso como acaso", o supersticioso deveria utilizar a sua metodologia de desconfiança também num processo de autocrítica. Assim, além de se conhecer, ele poderia melhorar a sua relação com o outro e diminuir a sua ansiedade quanto ao futuro.
Já comentei, em outros textos, sobre o dilema das garotas que no auge de sua beleza, principalmente entre os 15 e 21 anos, são tratadas como princesas e depois são trocadas pelas mais novas. Isso acontece com as garotas "comuns" mas também com aquelas que ficam famosas por se envolver com ídolos da música ou do cinema. Esse fenômeno acontece especialmente no ambiente do rock and roll. A seguir, tratarei de algumas garotas dos Rolling Stones.
Keith Richards disse que Mick Jagger traiu os companheiros dos Rolling Stones na década de 1980, quando escolheu priorizar a carreira solo. Richards reconheceu também que traiu o guitarrista Brian Jones ao tomar a namorada dele e a liderança do grupo. Jones, pouco tempo depois, foi encontrado morto na piscina de sua casa. Jagger e Richards sobreviveram, mas, nas relações pessoais, como traidores e egoístas. O que dizer das mulheres que namoraram ou casaram? Quando elas estavam no auge da beleza eram tratadas como princesas. Entretanto, com o tempo, eram abandonadas e substituídas por outras mais novas. Michele Breton, junto com o líder dos Rolling Stones, participou, aos 17 anos, do filme "Performance". Robert Greenfield* a descreveu como:
"(...) uma francesinha com ares de garoto, (...) cabelo curto e peitos tão grandes que chegam a chocar - junto com Mick Jagger e Anita, aparece nua na cena da banheira de 'Performance'." (p. 68)
Michele Breton era uma das mulheres presentes na Ville Nellcôte, na França, onde foi gravado "Exile On Main Street". Breton passou os anos seguintes, após esse período, viciada em drogas pesadas, sendo presa uma vez e quando foi encontrada pelo escritor Mick Brown, em 1995, disse:
"Não fiz nada da minha vida (...) Onde foi que tudo começou a dar errado? Não consigo lembrar. É mais ou menos coisa do destino." (p. 70)
Abandonar as mulheres não era uma tarefa só de Jagger e Richards. Ron Wood, guitarrista, que entrou na banda na década de 1970, faria o mesmo. Ele foi casado com a bela modelo Krissy Wood. Além de modelo, ela, na época, era considerada uma "groupie", um tipo de garota que se envolvia sexualmente com os músicos de rock:
"Ela foi uma groupie extraordinária que teve como amantes dois Beatles, o guitarrista do Led Zeppelin, entre outros, e foi casada com um Rolling Stone. Mas quando ela morreu aos 57 anos, sob suspeita de 'overdose' de Valium, Krissy Wood estava acabada e falida. A mulher que teve casos com Eric Clapton, George Harrison, John Lennon e Jimmy Page, e foi esposa de Ronnie Wood, foi reduzida a uma mulher que tentava vender coisas do próprio passado ou mesmo procurava emprego em supermercado." (Anna Pukas, "Rolled Over By The Stones", Apud, minimadmodmuses.mutiply)
Poucas "groupies" souberam tirar "proveito do passado". O caso mais importante foi o de Pamela Des Barres, que escreveu alguns livros contando detalhes dos seus envolvimentos sexuais com músicos como Robert Plant, Jimmy Page, entre outros. Bebe Buell também escreveu sobre as suas "memórias sexuais" com gente como Ron Wood, Steven Tyler e Jimmy Page. Ela é a mãe da atriz Liv Tyler. Jerry Hall se envolveu com Brian Ferry, do Roxy Music, e posteriormente foi casada com Mick Jagger. Ela dizia que se sentia "meio groupie", mas, na verdade, teve uma carreira de sucesso como modelo. Aparentemente, Jimmy Page e Robert Plant não se importam com as relações que tiveram com as "groupies" e nem fingem que elas não participaram das suas vidas. Nos últimos anos, ocorreram encontros cordiais, como amigos, entre Jimmy Page e Lori Maddox e ainda entre Robert Plant e Pamela Des Barres. Parece que essa cordialidade não faz parte do tratamento dos músicos dos Rolling Stones com as mulheres que se envolveram com eles no passado.
* Robert Greenfield, Exile On Main Street: A Season in Hell With The Rolling Stones, Apud, Rolling Stone, Março 2007.
A letra de "Paronoid" do grupo Black Sabbath está associada a um pedido de socorro e, assim, não tem nada a ver com o título "Paranóia". Décadas depois, junto com os companheiros da banda, o baixista Terry 'Geezer" Butler reconheceu que eles não sabiam o significado do termo quando fizeram a música em 1970. Este conceito num "linguajar diário (...) passou a significar o medo irracional de pessoas ou objetos do mundo externo." (David Bell, Paranóia, p. 9) Em outras palavras, diante da insegurança, "existe uma propensão de atribuir um caráter sinistro ao mundo externo." (p. 8) O paranóico, portanto, associa o seu medo ao outro. Freud (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 221) esclarece:
"Tudo que o [paranóico] observa no outro é repleto de significação, tudo é interpretável. O que o faz chegar a isso? Aqui, como em tantos casos semelhantes, é provável que ele projete na vida anímica do outro o que está inconscientemente presente na sua."
Essa é a questão ponto fundamental. O paranóico é incapaz de olhar para si. Ele sempre atribui ao outro análises que seriam do caso dele, mas, por medo da autocrítica, ele não admite. O ponto de partida do paranóico é a insegurança. Existe algo errado. Com ele? No seu ponto de vista, não. O erro estaria associado ao outro, ao mundo externo. Existir algo errado significa admitir o incômodo. Atribuir isso ao outro significa fugir de si mesmo. Esse processo não é consciente. Entretanto, a fuga de si e o incômodo nunca serão esquecidos. De maneira consciente ou não, eles afetarão o cotidiano do indivíduo, deixarão marcas no seu corpo que não poderão ser explicadas nos exames médicos, aparecerão, não de forma clara, em pesadelos, quando a dor parecerá bastante real. A dor é a consequência de não enfrentar a própria realidade. Não existe medicamento para essa dor. Na medida em que ela trata da fuga do indivíduo dele mesmo, a ajuda não pode vir do processo psicoterápico. Não existe saída. A alternativa seria olhar para si e deixar de associar as coisas ao mundo externo. Mas se ele fizer isso, não será mais paranóico.
O país símbolo da crise atual é a Grécia. A aceitação de um plano de autoridade, com cortes nos salários e nas aposentarias, teve também, em 2012, o seu símbolo: o suicídio de um aposentado que dizia que preferia morrer do que perder a dignidade e morar nas ruas. Como foi dito em outro texto, em 2011, por causa da crise econômica, já havia ocorrido um aumento de 40% no número de suicídios neste país. (Notícias UOL) O suicídio, neste contexto, aparece como resultado de uma época em que as pessoas não acreditam em movimentos sociais, nos partidos políticos ou em revoluções. O único aspecto que permanece é a ganância da elite. A indiferença quanto aos desempregados, o aumento visível da miséria, também não é algo novo. Em 1845, Frederick Engels, diante da crise que vivia a maioria da população no Reino Unido, observava:
"Se, ainda em tempo, a burguesia inglesa não parar para a reflexão - e tudo indica que isso certamente não ocorrerá - uma revolução, como nunca se viu até agora, acontecerá." (The Condition of the Working Class, p. 320)
No século XIX, a revolução comunista era vista como a solução para a crise. A ação individual, como o suicídio ou qualquer outro ato, era descartada:
"Além disto, não ocorre a qualquer comunista desejar a vingança individual ou acreditar nela. (...) É muito tarde para uma solução pacífica. As classes estão divididas (...)" (The Condition of the Working Class, p. 320-321)
Os comunistas, em 1845, acreditavam na "certeza" de um evento que ocorreria no futuro: a revolução que acabaria com a divisão de classes.
"As premissas [para isso] estariam nos inegáveis fatos decorrentes do desenvolvimento histórico e da natureza humana." (The Condition of the Working Class, p. 321)
A revolução imaginada em 1845 não aconteceu. Em 2012, o indivíduo, diante da crise social, não imagina uma revolução como resposta. O problema, em 2012, é que esse mesmo indivíduo não apresenta outra alternativa. Daí, para alguns, o suicídio aparece como a única saída.
A primeira fase da vida - até aos 20 anos -, o indivíduo deve ser cuidado. Na segunda fase, adulto - entre os 21 e os 40 anos -, torna-se independente, possui vários projetos (formatura, emprego, carro, casa própria, casamento, filhos, entre outros) e são apresentadas as oportunidades para realizá-los. Na terceira e última fase - após os 41 anos -, ele entra na fase das perdas até o momento final, a morte, que seria a perda da vida. Essa divisão é determinada sobretudo no ocidente por uma visão capitalista de mundo. Nessa perspectiva, o trabalho é fundamental. Ao longo dos séculos, foram criadas instituições para excluir da sociedade as pessoas que não eram consideradas aptas para produzir, como o hospício para os loucos, o asilo para os velhos e, no Brasil, a Fundação Casa (antiga Febem), cuja função seria prender as crianças e adolescentes, principalmente os que moravam nas ruas. Karl Marx, no livro "O Capital", já demonstrava a preocupação dos capitalistas em se livrar dos "vagabundos" com a criação de "uma legislação sanguinária" que previa punições aos desempregados desde a prisão até o enforcamento. Na Europa Ocidental, agora em 2012, existem protestos em todos os países, inclusive na Alemanha, contra a política de austeridade para lidar com a crise no continente. O desemprego é grave sobretudo na Espanha e na Grécia. Em 2011, em outro texto, eu havia tratado do problema, citando exatamente o caso da Grécia:
" De acordo com o Notícias UOL, em 2011, por causa da crise econômica, houve um aumento de 40% no número de suicídios na Grécia. E antes? 'Em 2010, a Organização Mundial da Saúde situava o país mediterrâneo entre os que registravam os níveis mais baixos de índice de suicídios em nível internacional, com menos de 6,5 casos por 100 mil habitantes.' "
Se a questão do suicídio não era um problema grave em 2010, esse quadro mudou com a crise econômica de 2011-2012. Por quê? O que escrevi em 2011 é válido ainda para 2012: Indiretamente, parece que os defensores do neoliberalismo arrumaram uma forma de resolver o problema que surgiu com o avanço das novas tecnologias: o desemprego estrutural. Em outras palavras, desaparecem o emprego e a profissão. O resultado é uma multidão de pessoas sem trabalho e sem perspectiva de emprego.
"Porque a empresa pega e descarta em função de suas necessidades, e todas as classes sociais são afetadas pelo desemprego: aos jovens e os operários sem qualificação que constituíam ontem a massa de desempregados se juntam hoje os operários qualificados, os contramestres, os técnicos, os gerentes."(Maier, Bom-dia, preguiça! p. 55-56)
O que fazer com essa massa de indivíduos sem trabalho? Os grandes empresários não se importam. Como lembra Maier, "para a companhia, o ser humano (...) é um fardo." (p. 71) A solução veio da ideologia, afinal, nesse discurso, o desemprego é um problema pessoal (e não social). Assim, a culpa seria do trabalhador. Se ele não mostrou o seu valor, merece desaparecer, assim como a sua profissão. Como desaparecer como um ser humano? Morte. Mas o assassinato em massa não seria algo civilizado. Então, basta transformar um problema estrutural em pessoal, colocar o peso da culpa no indivíduo e induzi-lo ao suicídio. Isso acontece agora na Grécia. É só o começo.
O indivíduo só faz algo a partir do momento que sente que existe algo errado como insônia, falta de apetite ou desinteresse sexual. Ele parte do resultado - o problema - para procurar a causa - a solução. Óbvio? Esse indivíduo, normalmente, acredita que basta "resolver" o que existe de errado no corpo. Faz exames, toma remédios e acredita que tudo estará resolvido. Entretanto, isso não acontece. Faz mais exames, mas os resultados indicam que o seu corpo está "normal", sem problemas. Então, finalmente, o indivíduo pensa na possibilidade de que a causa poderia estar na mente. De fato, ele tem medo dessa possibilidade, pois ele terá que ir ao psicólogo ou ao psiquiatra ("vão pensar que ele é louco", assim como ele pensava das outras pessoas que precisavam buscar ajuda com esses profissionais). Esse tipo de indivíduo não acredita na psicanálise pois acha que ela seria sinônimo de problema sexual e, claro, ele seria "resolvido" sexualmente. Primeiro, se o homem é um ser que muda o tempo tudo, não seria possível admitir que ele fosse "resolvido" ou tivesse uma verdade absoluta para algum aspecto da sua vida. Segundo, por que alguém teria medo da própria sexualidade? De fato, muitas pessoas tem verdadeiro pavor de pensar em si... Elas acreditam em ilusões mas chega uma hora que o corpo mostra que existe algo errado. Libido? Trata-se de uma problemática importante. Existem várias concepções para definir o termo. Uma delas:
"(...) a libido é uma acumulação de tensão que impõe uma liberação por uma reação específica - por exemplo, coito ou masturbação." (Kennedy, p. 24)
Isso que dizer que não realizar um instinto básico - sexo - poderia gerar problemas? Sim, é isso mesmo. Freud (Apud, Kennedy, p. 24) já afirmava:
"(...) a tensão física, não tendo restrição psíquica, transforma-se em angústia."
Em outras palavras, o "físico" afeta o "mental" da mesma maneira que a mente "gera" problemas no corpo.
O que as pessoas racionalmente evitam? Morte, sofrimento, dor, rejeição, culpa, rancor, inveja... Emocionalmente, essas mesmas pessoas podem ser levadas a cometer atos que levem a esses resultados. Por quê? Ambiguidade do desejo. A base, claro, como lembraria Freud, seria encontrar num mesmo indivíduo, de um lado, um sentimento de valorização da vida e, de outro, o instinto de morte. As pessoas desprezam o fato de que passam um terço da vida dormindo... Neste contexto, o que acontece no sonho deveria ser importante para o indivíduo. No entanto, ele esquece o conteúdo do sonho e quando lembra, julga não ser relevante na medida em que não é "real". Na realidade do dia-a-dia, predomina no indivíduo o discurso racional. Assim, ele julga que controla os seus atos (e até os outros), o seu passado e acredita num futuro feliz e seguro. No sonho, o "escudo racional" desaparece e o indivíduo se depara, não de maneira lógica, com desejos seus que, no fundo, não admite, e com seus piores medos... Tudo acontece numa velocidade desordenada e numa enorme complexidade de imagens e sentimentos. Seria como se o indivíduo tivesse uma "segunda vida" ou uma "segunda realidade" diferente da primeira, embora os fatos e os sentimentos "reais" interfiram nos sonhos. Existiria, portanto, um conexão entre as duas "realidades" que ocorreriam dentro de um mesmo "universo": o próprio indivíduo. Para dar conta de tudo isso, o melhor conceito talvez seja mesmo o da ambiguidade. Ou seja, não seria nem "A" nem "B", mas "A" e "B" misturado e muito mais.
Sexta-feira, 4 de maio de 2012........... DISTÚRBIO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE
Os "borders" atuais seriam os "histéricos" na época de Freud... O fator determinante, nesses casos, estaria relacionado principalmente com algum trauma sofrido na infância:
"Os que sofrem um trauma avassalador, crianças ou adultos, têm comumente certo grau de dissociação. Constitui também o aspecto central do que se denomina distúrbio de personalidade limítrofe." (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 67-68)
No início da vida adulta - quando "aparece" a consciência do trauma, os "borders" fazem qualquer coisa para "apagar" o passado, daí a automutilação, as práticas sadomasoquistas, o alcoolismo, as drogas e, finalmente, o suicídio. Eles aceitam qualquer coisa exceto a psicoterapia, que seria justamente falar do problema e de sua causa no passado. Os "borders" são, na prática, vítimas, pois sofreram agressões psicológicas e físicas na infância, normalmente dentro da própria família, por aqueles que deveriam protegê-los. Além de estarem numa situação em que não podiam se defender (crianças diante dos adultos), quando os pais eram os responsáveis pelos abusos, a situação tornava-se mais complexa, afinal, denunciar, por exemplo, o pai significaria a prisão dele e a "destruição" da família. Para Estela Welldon, (Sadomasoquismo, p. 52-53), em casos graves, poderia existir uma espécie de pacto contra o filho:
"(...) É então que a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa ser o membro frágil da família e alvo 'conveniente' para a expressão de hostilidade, agressividade e até violência sexual."
Em suma, especificamente no caso do "borderline", o fator psicológico torna-se essencial para compreender o processo, ou seja, a criança ficaria confusa com a agressão de alguém que deveria amá-la e protegê-la.
Não existe como saber se o amor de uma pessoa é verdadeiro ou não. A questão está na maneira como ela demonstra o seu amor. O que é esperado é carinho, solidariedade e outras formas afetivas de mostrar a emoção. Entretanto, existe gente que confunde amor com ciúme e diz que ama e agride (tanto física como psicologicamente), grita e até mata. No Brasil, na década de 1970, as mulheres ainda eram assassinadas pelos maridos em nome da honra ou do amor. A violência (física e mental) não significa que o indivíduo não ame. Ele acredita que a sua ação é provocada pela pessoa amada. Mais do que isso, ele se coloca na condição de "protetor" e de "educador", assume, portanto, como diria Freud, a figura do pai. Acredita que bater, humilhar e até matar seria algo legítimo pois ele faria isso pelo "bem" da pessoa amada. É uma forma doentia e egoísta de amar. O ser amado, em situações como essas, prefere manter relações com supostos inimigos do que receber o amor daqueles que se colocam como os seus "íntimos" e "verdadeiros" companheiros.
Terça-feira, 24 de abril de 2012........... DÚVIDAS E RESPOSTAS
A vida poder ser divertida. Mas, se for pensar seriamente, estar num lugar sem saber por que, não compreender a sua origem e não saber o que acontecerá após a sua morte, parece mais uma punição do que um prêmio.
O homem é condenado a existir e, ao mesmo tempo, não suporta a ideia de não existir (como se tivesse existido desde sempre).
Freud já dizia:
"É possível (...) que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez os homens morram porque queiram morrer." (A arte da entrevista, p. 91)
O indivíduo não é criador de si mesmo. Isso não significa que a resposta estaria em alguma religião e, muito menos, se existira uma resposta. "A religião é o ópio do povo." Marx estava certo.
Jean-Paul Sartre lembrava ainda que "mesmo se Deus existisse, nada mudaria. (...) é necessário que o homem se encontre e se convença que nada pode salvá-lo dele mesmo."
Qualquer construção racional de uma resposta é destruída pela irracionalidade da emoção. Ela, a emoção, "explode" qualquer perspectiva de estabilidade, de segurança e de certeza.
Como conviver com tantas dúvidas e sem respostas? O indivíduo é "jogado" no mundo exatamente com essa mensagem: "se vira, essa é a sua condenação."
No filme "Blade Runner", o que diferenciava o ser humano do andróide era o passado, a memória de ter vivido uma infância, por exemplo. Questionado sobre a imortalidade, Freud destacou, indiretamente, a importância da memória:
"A vida, movendo-se em círculos, ainda seria a mesma. (...) que utilidade isso poderia ter sem a memória? Não haveria ligação entre o passado e o futuro." (A arte da entrevista, p. 91)
Sem a memória, o ser humano torna-se raso. Ele vira, por exemplo, uma espécie de planta que decora uma sala - ela está ali mas não faz diferença. Esquecer o passado é uma forma de fuga. Esquecer o conteúdo de um sonho é outra forma de censura:
"(...) o esquecimento dos sonhos é tendencioso e serve aos propósitos da resistência." (Freud, A interpretação dos sonhos, p. 501)
Em suma, esquecer é uma maneira de fugir do passado e do sonho. Por quê? Medo de si. Trata-se de uma fuga da autocrítica. O problema é que apagar a memória é uma forma de não existir. Se, por exemplo, houve uma vida antes desta (ou não) perde a importância por causa da memória. O mesmo processo ocorre com o futuro: existe vida depois da morte? Pode existir ou não... mas resolveria o quê se a pessoa chega nessa "vida futura" sem a memória da vida atual? (É o provável na medida em que o indivíduo chega na vida atual sem a memória de uma outra vida antes dessa.) Não adianta lembrar algo sem ter a capacidade de interpretá-lo. Isso significa fazer perguntas: por que a pessoa escolheu pensar em tal fato do passado? O que significa sonhar algo para a vida atual? Problematizar o passado ajuda o indivíduo a não cometer os mesmos erros. Quanto ao sonho, de uma forma bastante distorcida, ele pode revelar aquilo que o escudo racional não quer admitir para a própria pessoa.
Não lembro, nas minhas leituras das obras de Domenico de Masi, de ver a teoria de filósofo francês Hebert Marcuse ser citada como algo favorável ao ócio criativo, que seria proporcionado pela revolução tecnológica do computador, que reduziria o trabalho do homem na produção e lhe daria mais tempo livre. Roger Kennedy, em seu texto sobre a libido, por outro lado, demonstra que a filosofia de Marcuse teria muito a ver com as teses defendidas por Domenico de Masi. Kennedy, destaca, primeiro, a perspectiva freudiana:
"Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsõessexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência." (Kennedy, Libido, p. 75)
Seguindo essa linha de raciocínio, Roger Kennedy percebe uma continuidade nas hipóteses do filósofo francês:
"Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade." (Kennedy, p. 75)
De fato, a base da argumentação de Marcuse seria utilizada posteriormente por Domenico de Masi. Quanto ao resumo de Kennedy sobre Freud, pode ter ocorrido um exagero, na medida em que a sua afirmação não valeria para toda história da humanidade. A sua tese (atribuída a Freud na primeira citação) não seria verdadeira quanto ao discurso da sexualidade na Grécia Antiga. Numa perspectiva bem diferente do socialista Domenico de Masi e do marxista Marcuse, o nietzscheano Michel Foucault analisa a sexualidade como uma estratégia discursiva no exercício do poder. Se para Marx a luta pelo poder teria uma perspectiva "geral" na sociedade, a partir da contradição entre a classe dominante e a classe dominada, para Foucault não existiria essa "oposição binária e global entre os dominadores e dominados." (A Vontade de Saber, p. 90). Michel Foucault defende uma microfísica do poder:
"o poder está em todo lugar; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares." (p. 89)
Para Foucault, portanto, a repressão geral ao sexo não representa o ponto central do debate na medida em que existem "correlações de forças múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos e instituições." (p. 90)
Em nenhum momento, na perspectiva dos outros citados, é negado o uso repressivo que pode ser ao sexo. A questão seria perceber essa problemática como uma repressão geral sobre toda a sociedade ou enfatizar as estratégias de repressão e de resistência espalhadas por todo o corpo social.
Os músicos do Led Zeppelin eram os que mais se relacionavam com as "groupies", em orgias e namoros (apesar de serem casados na Inglaterra). Jimmy Page, por exemplo, se envolveu com Lori Maddox quando ela tinha apenas 14 anos. Sobre esse período e o guitarrista do Led Zeppelin, Pamela Des Barres afirmou:
"Jimmy carregava chicotes e gostava de infligir algum dano nas meninas. Ele também desenvolveu um hábito de visitar clubes de travestis, vestido em uniforme nazista e aplicava heroína cercado por drag queens. Se brincadeira saísse de controle, Page seria levado de volta para o hotel pelo tour manager e acorrentado num 'toilet' até que ele se acalmar."
No livro "Hammer of Gods" aparece a opinião de Jimmy Page sobre as "groupies":
“As garotas aparecem e posam de starlets, provocando e agindo de maneira arrogante. Se você as humilha um pouco, costumam voltar numa boa. Todo mundo sabe para o que elas vieram.”
Dizer "se você as humilha um pouco", de certa forma, confirma a depoimento de Pamela de Barres. Mais do que isso, como afirmei em outro texto, Jimmy Page gostava de usar um "Nazi SS Storm Trooper Hat" em shows do Led Zeppelin - acessório usado ainda em práticas de sadomasoquismo (SM). Sobre estas problemáticas, numa entrevista com Tony Barrell em 2010, o guitarrista afirmou:
"Eutenho certeza que algunsde seus leitorespodem terflertadocom o SM. (...) Eu tenhoum apetite voraz portodas as coisasdesse mundo ou não ('unworldly')."
Em uma resposta bastante vaga, de fato, Jimmy Page não negou o seu interesse pelo SM. Como ele mesmo disse, todos "sabiam para o que elas vieram", ou seja, os músicos se sentiam livres para fazer qualquer coisa com as "groupies".
Tudo ocorreu na década de 1970. Hoje, certamente, com tantas restrições à liberdade do indivíduo, seria difícil ver músicos e "groupies" agirem daquela maneira. Claro que muitos tentaram copiar o Led Zeppelin nas décadas seguintes, tanto em relação à música como no que dizia respeito ao comportamento. Entretanto, a maioria falhou.
Não é comum eu sair durante o dia, sobretudo ir ao centro da cidade. O trânsito, o calor e o tumulto são desanimadores. Mas, algumas vezes, não existe opção. Observei, hoje, que, no geral, as pessoas: . estão muito apressadas; . estão sem paciência umas com as outras; . pensam só em acumular dinheiro e bens materiais e . trabalham-estudam CINCO dias pensando no prazer que ocorrerá em DOIS (sábado e domingo). Lembra, num outro ponto de vista, a fábula da formiga e da cigarra. Se, olhar de longe e com tempo, uma rua cheia de prédios e condomínios, perceberá que parece um formigueiro: na manhã, quase no mesmo horário, os carros saem dos condomínios, quase todos; no final da tarde, eles voltam para os mesmos lugares. As pessoas correm como as formigas carregando as suas folhas. É necessário acumular, guardar. Quem não corre, como a cigarra, sofre depois. Mas correr já não é sofrer? O fundamental, porém, é que acumular coisas materiais (folhas, carros ou mansões) não fará diferença alguma no destino final das formigas, das cigarras e dos seres humanos. Então, correr para quê? Com a tecnologia atual, as pessoas não precisariam trabalhar tanto. O problema é que as longas horas de trabalho servem de pretexto para não pensar em si ou não lembrar da própria morte. De fato, o medo de si e da morte faz com que as pessoas não usufruam as suas vidas. As pessoas, no geral, preferem, ao invés de viver intensamente os seus bons momentos, lamentar, depois, o que perderam. As formigas não vivem como as cigarras, mas, com certeza, são mais felizes do que os seres humanos.
Ao tornar-se civilizado, o homem tornou-se complexo e contraditório. Deixou de realizar automaticamente o seu desejo. O preço dessa mudança é pago por cada indivíduo até hoje. Freud já alertava para o conflito entre o desejo da pessoa (egoísmo) e o interesse da sociedade (altruísmo) que existiria em cada indivíduo. O resultado deste conflito pode, claro, tornar a pessoa infeliz, dissimulada e com um grande medo do passado ou do futuro. Não é possível que o homem entenda o presente sem relacioná-lo com o passado, sobretudo com o que aconteceu na infância. Ela é a base de tudo. No depoimento de um agente do FBI no DVD do filme "Silêncio dos Inocentes", analisando os casos reais nos Estado Unidos, ele afirma:
"Na minha pesquisa, não acredito que alguém nasce como um 'serial killer' (assassino em série). Com "serial killers" ou estupradores, existe alguma experiência na infância."
Na história do filme ("O Silêncio dos Inocentes") , uma agente do FBI, a personagem Clarice, precisa da ajuda de um psiquiatra que encontrava-se preso por vários crimes e era conhecido como "canibal" ou Dr. Lecter. Ela necessitava da experiência (e inteligência) desse psiquiatra para capturar um "serial killer", que seria apresentado por Dr. Lecter da seguinte maneira:
"Nosso Billy não nasceu um criminoso, Clarice. Ele tornou-se um após passar por anos de abuso. Billy odeia a sua própria identidade e ele acredita que isso o transforma em transexual. Mas a sua patologia é mil vezes mais selvagem e terrível."
Dois autores, sem desconsiderar a importância da infância, procuram, de certa forma, ir além dos pressupostos de Freud:
"(...) Stolorow e Atwood referem-se a outro modo de impedir que acontecimentos ruins na infância cheguem à consciência, não por serem reprimidos, mas porque não são aprovados por figuras importantes no meio da criança e portanto não se pode reconhecê-los nem pensar neles."
Contudo, Stolorow e Atwood admitem que esses traumas ocorridos na infância podem, um dia, aparecer na consciência da pessoa:
"Os autores apresentam o exemplo de uma moça de 19 anos que sofreu um colapso psicótico. Quando a garota era mais jovem, o pai a violentara por muitos anos. Era o segredo de pai e filha. (...) o abuso sexual contrastava enormemente com a aparência externa de normalidade: os membros da família eram bem-vistos na comunidade e frequentadores assíduos da igreja. Portanto, havia uma acentuada dissociação na família e na vivência da moça."
Em suma, o trauma que aconteceu na infância - que "não poderia ser reconhecido" - em algum momento, abandona o inconsciente e torna-se claro para a vítima. Muitas vezes isso ocorre no início da vida adulta e no caso do exemplo citado o resultado foi um colapso psicótico.
Os bares e as casas noturnas tornaram-se a arena onde "os machos caçam as suas fêmeas". O que um homem quer na noite? Simples: mulheres (sim, no plural). Ele fará e sobretudo falará qualquer coisa para atingir o seu objetivo. O que ele não quer? Simples também: conversar e principalmente começar um relacionamento sério. Em todo lugar que chega, estabelece uma hierarquia dos "alvos" desde a número 1 até aquela que nem totalmente bêbado encararia. Ele estabelece as fases: 1. a abordagem; 2. beijar e 3. se for possível, sexo na primeira noite. Se ele atingir os três objetivos, claro que ele não precisaria ver aquela garota mais. E pensar que as meninas estranham o fato do homem não ligar mais... E a mulher que sai na noite? De acordo com a ilustração do artigo de R. Chastellier e P. Thévenin (Dans la tête d'une clubbeuse. Max), o cérebro da garota estaria dividido em três grandes áreas de interesse:
1. o mais importante seria conseguir beber de graça; 2. "beijar um homem; beijar uma mulher " e, por último, sem grande importância, fazer sexo; 3. nada de especial; conseguir voltar de táxi de graça e, finalmente, ela estaria interessada na música.
Claro que essa análise foi feita com base no perfil da garota na Europa. Ela se aplicaria à realidade brasileira? É difícil dizer. Seria necessário uma ampla pesquisa. Entretanto, o artigo "Dans la tête d'une clubbeuse" não deixa de ser uma referência interessante.
Faz algum tempo que tento entender a relação entre a tortura que o catolicismo fazia na Idade Média, o cilício e o autoflagelo, os métodos de tortura do nazismo e o elogio da dor feita pelos adeptos do sadomasoquismo (SM). Como compreender que existem pontos em comum em práticas supostamente tão diferentes como a religião, a política e o sexo? O nazismo ainda exerce grande fascínio entre as pessoas, inclusive em relação ao processo de "produção da dor". Muitos adeptos do SM utilizam uniformes nazistas em suas práticas. Jimmy Page usava um "Nazi SS Storm Trooper Hat" em alguns shows do Led Zeppelin. Aliás, Jimmy Page não nunca negou o seu interesse pelo SM. O filósofo francês Michel Foucault era um defensor do SM (Dit et Ecrits, p. 1556-1557):
"A ideia de que o SM está relacionado com uma violência profunda, que a sua prática é uma forma de liberar essa violência, para dar vazão à agressão é uma ideia estúpida. Temos muitas pessoas boas que não são agressivas, elas apenas inventam novas possibilidades de prazer, utilizando reconhecidamente partes estranhas de seus corpos." *
Essa defesa era coerente com a sua concepção de poder, ou seja, o poder não estaria no Estado (A Vontade do Saber, p. 88) e sim existiria uma "onipresença de poder (...) o poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares." (A Vontade do Saber, p. 89)
Entretanto, nem todos concordam com o conceito de poder de Foucault. Em "Nothing Mat(t)ers: A Feminist Critique of Postmodernism", é dito:
"Foucault pensa que o nosso prazer é a nossa dor, incesto e seu tabu seriam jogos de poder. A intimidade da violência não é o seu gozo. Claro, se nós não gostamos disso, somos informados, não pode haver fuga. Resistir já está inscrito, constituído, contido, absorvido, é impossível. É isso mesmo? Isso significa que só podemos realizar o prazer e o poder de Judith, que dormia com o rei Holofernes para cortar a cabeça dele? Porque é isso que ele deseja, se não houver outra história." **
Essas críticas fazem sentido. As práticas do SM, por exemplo, não significam somente novas possibilidades de prazer, elas estão associadas normalmente aos abusos sofridos na infância e a uma recusa ao processo psicoterápico.
Para Michel Foucault: "(...) as relações de poder são (...) intencionais (...) não há poder que se exerça sem uma série de miras e objetivos." (A Vontade do Saber, p. 90)
Isso significa, por exemplo, que uma bela mulher, dançando de maneira sensual e com roupas provocantes, estaria num jogo de sedução com os homens, o que poderia levar, em alguns casos, ao estupro, e ela, a mulher, não poderia ser definida como vítima no processo. Trata-se de uma tese equivocada.
De fato, independente do ponto de vista, o que une as práticas da religião, da política e do sexo, na perspectiva de análise desse texto, parece ser mesmo a violência. Ela serviria para omitir as verdadeiras causas dessas práticas. Certamente a dominação do outro e a fuga de si estariam entre elas. ............................................................................ * "L’idée que le S/M est lié à une violence profonde, que sa pratique est un moyen de libérer cette violence, de donner libre cours à l’agression est une idée stupide. Nous avons trés bien que ce que ses gens font n’est pas agressif; qu’ils inventent de nouvelles possibilités de plaisir en utilisant certes parties bizarres de leurs corps – en érotisant ce corps." ** Foucault thinks our pleasure’s our pain; incest and its taboo is a game of please and power (‘perpetual spirals of power and pleasure’). The intimacy of violence is not its enjoyment. Of course, if we don’t like that, we are told there can be no escape. Even our resistance is already inscribed, constituted, contained, absorbed, impossible. Is that so? Does this mean that we can only perform with the pleasure and power of Judith, who slept with King Holofernes to cut off his head? Because that is what he desires, if there is no other history."
Quem tem depressão e está em crise, vai ao médico e é comum o paciente ser orientado a tomar regularmente medicamentos como Prozac ou Zoloft. O que normalmente o médico não diz no momento - o paciente nem estaria interessado pois o objetivo seria se livrar da depressão - é que um dos efeitos colaterais dos antidepressivos atingiria a sexualidade. Existe o bem estar proporcionado, por exemplo, pela "pílula da felicidade", o Prozac, mas, ao mesmo tempo, haveria um desinteresse quanto ao sexo. Esse tema é discutido num dos episódios da série "Sex and The City". No que diz respeito ao Zoloft, ele também traz o bem estar mas dificulta a ejaculação durante uma relação sexual. Alguns homens sempre tiveram pânico da ejaculação precoce e, portanto, de decepcionar as suas parceiras. O Zoloft resolve esse problema. A questão é que o controle é definido pelo medicamento e não pela mente do homem - como defende, por exemplo, o Taoísmo - e isso faz toda a diferença. Na prática, significa que o homem em 20 relações sexuais, ele teria ejaculação em uma e não seria ele, racionalmente, que decidiria qual e nem o momento do gozo. Em relação ao Taoísmo, Jacques Lacan apresenta uma análise interessante:
"No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É precisoreter a esporra, para ficar bem.” (Lacan, Mais, Ainda, p. 156-157)
Ou seja, enquanto nos animais a ereção e o gozo são a realização de um instinto natural, nos seres humanos, o processo civilizatório possibilita uma leitura que não se restringe à natureza, o que pode levar, como aparece na citação de Lacan, a “reter a esporra, para ficar bem.”
De fato, o "Taoísmo defende o 'deixa-estar' ['let-it-be'] (...) e um estilo de vida caracterizado (...) pelo cultivo da tranquilidade." [Charles Guignon (ed.) The Good Life] O oposto disto seria a ansiedade que no sexo pode ser traduzida, entre outras coisas, na ejaculação precoce.
Em suma, como sempre, não existe uma solução mágica que resolve tudo. Cabe aos indivíduos fazer as suas escolhas e saber lidar com as conseqüências. Isso é o óbvio, claro, mas parece que é assim mesmo que as coisas funcionam.
Odeio, como a maioria, o pedófilo. Ninguém deve atacar quem não pode se defender. Até numa guerra, existem limites. Torço que para alguém que abusou de uma criança tenha uma vida longa e não sofra de Alzheimer. É necessário que toda noite, ao dormir, quando está no reino do inconsciente, se depare com a sua culpa. No sonho, as suas autojustificativas racionais valem zero. O pseudo-apoio de amigos e familiares é inexistente. Toda noite existe um encontro marcado com a sua culpa e num lugar que não há para onde correr ou esconder. Pouco importa se tal pessoa lembre do sonho no outro dia. É irrelevante. No fundo, ela sabe que existe o mal-estar toda noite. O ser humano passa um terço da vida dormindo. Trata-se de uma condenação e tanto. Esse tipo de indivíduo merece.
Encontrado bêbado na porta de casa, o personagem Charlie Harper fala para o irmão: "a noite foi ótima, é essa manhã que está me matando." Sim, as noites são maravilhosas. Tudo fica bonito e divertido. Claro que para isso acontecer, as boites utilizam muitos efeitos de luzes e música bastante alta. Tudo deve ser embalado com doses de vodka, whisky, tequila e/ou cerveja. Alguns tomam (mais) energético para aguentar a "balada". Outros ainda usam drogas. O objetivo, no fim da noite, além de ficar "wasted", é que tudo terminar em sexo. Os homens assumem isso - para eles, pelo menos. As mulheres acham que encontrariam a sua cara metade nestas noitadas. O que faz lembrar aquele velho ditado: "eu não entraria num lugar que me aceitasse como sócio." Em outras palavras, estes ambientes são propícios para qualquer coisa, exceto para uma garota encontrar o seu "príncipe encantando". No final das contas, elas que gostariam de achar o amor, acabam fazendo sexo mesmo. O filme "Tudo para ficar com ele" ("The sweetest thing"), com a atriz Cameron Diaz, discute de forma bem humorada algumas temáticas deste "jogo" - elas usam esse termo mesmo. De um lado, a garota seduz, beija o rapaz, dá o número do telefone errado e depois vai embora. Do lado do homem, ele fará qualquer coisa para levar a moça, que encontrou na boite, para a cama. Ele falará qualquer coisa e fingirá que está ouvindo tudo o que ela disse, com aquela cara de interessado nos problemas femininos. No filme, depois de ouvir a personagem da Cameron Diaz desabar, o rapaz fala: "esquece... o que um cara não tem que passar para poder transar?" É esse o jogo, noite após noite. No filme, elas cansam e decidem encontrar "Mr. Right". No fundo, é o que todo mundo deseja, encontrar a sua cara metade e ser feliz. Contudo, as relações de sedução não são simples. Ao invés de encontrar um príncipe, normalmente, no outro dia a mulher se depara com uma ressaca do excesso de bebidas e com um arrependimento de ter ficado com aquele cara - que depois nem a cumprimentará nos lugares. No entanto, novamente, junto com a noite, chega a esperança que desta vez será diferente. Ela acredita nisto pelo simples fato de que não tem outra alternativa, a não ser ficar sozinha. As pessoas esperam que as noitadas sejam apenas uma fase, que iria até encontrar o seu amado (a), casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Entretanto, a vida não funciona assim, pelo menos para a maioria das pessoas. As noitadas podem levar ao alcoolismo e ao vício em drogas. É um risco. O ator Robin Williams passou por isso - alcoolismo e drogas - e, sobre as "baladas", concluiu: "você percebe que se visse as pessoas com as quais sai à noite durante o dia, elas te matariam de susto. Existem insetos que parecem melhor do que isso." Afinal, a noite pode seduzir, é o momento perfeito para fantasiar, mas a manhã sempre chega. Fantasia e realidade são coisas diferentes. O próprio ator, Charlie Sheen, que faz o sortudo Charlie Harper - no seriado, mesmo com o alcoolismo e o excesso de mulheres, ele sempre se dá bem -, na vida real, passou por sérios problemas por tentar levar esta vida, inclusive, sendo condenado por uso de drogas e violência contra a mulher. Em suma, não existem grandes novidades nesta área: as noitadas embaladas com excessos de vinhos e mulheres não são invenção recente. Não são também equivocadas e nem devem ser condenadas. Existem riscos, obviamente. Mas, viver não seria exatamente isso, arriscar até acertar?
Existe um mito (ou seria verdade?) associado a ideia de que o período da faculdade seria a melhor época na vida de um indivíduo. Eu vivi intensamente a fase da minha graduação: festas, bebidas, ficantes/namoradas (tanto colegas como professoras), militância política, viagens e, claro, estudos (eu era o que se chamava de "rato de biblioteca"). Foi uma ótima fase, mas não posso dizer que foi a melhor, pois não acredito neste tipo de hierarquia na vida. De qualquer maneira, muitos acreditam neste mito e é comum ver junto com os calouros nas salas de um curso universitário, pessoas com mais de quarenta anos, a maioria casada (ou divorciada) e com filhos. O que leva uma pessoa, depois dos 40 ou 50 anos, a fazer uma graduação? Existem duas possibilidades: pode ser realmente a primeira vez do indivíduo, que antes não teve oportunidade de fazer uma faculdade ou pode ser a tal da crise da meia-idade, quando a pessoa não sabe para onde ir ou quer "recuperar o tempo perdido" ou reviver "a melhor fase da sua vida". Qualquer uma destas opções leva a um risco para os casados: o divórcio, claro. É muito comum, aliás. Apesar de ter sido um período ótimo, eu não faria outra graduação. Já disse antes que não sou do tipo que gostaria de viver novamente os momentos de sua vida. Sem, necessariamente, sair da crise da meia-idade, existe uma outra maneira de viver a "fase da faculdade": basta ser professor universitário. Quando eu era casado, evitava participar de festas ou ir para bares com alunos. Após o divórcio, mudei de atitude. Voltei a ser solteiro e, apesar de (algumas décadas) mais velho, comecei a frequentar esses ambientes. O motivo inicial era que, diferente das pessoas da minha idade, gosto de festas com música alta, andar de skate, rock... diversão, basicamente. Não sou do tipo que faz cara fechada o tempo todo e quer passar uma imagem de sério. Dificilmente, com o meio perfil, eu seria feliz, por exemplo, num baile da terceira idade no SESC. Pago as minhas contas e os bares ou festas têm idade mínima para entrar - 18 anos -, mas não existe uma idade máxima - algo como: não pode entrar maiores de 30 anos - para ir nesses lugares. Pronto, tenho liberdade de escolha: prefiro ir numa "rave" que num baile de terceira idade. O engraçado é, na portaria, os seguranças insistirem para ver a minha identidade, como fazem com os adolescentes. É irônico, pois quando eu tinha 15 anos e ia em "boites", não me pediam documentos. Enfim, acredito que as pessoas escolhem "os seus lugares da noite" com base no que gostam e não na idade que possuem. Cada escolha, porém, deveria ser analisada especificamente. Uma menina de 14 anos, por exemplo, que vai numa "rave" com carteira de identidade falsa, quer afirmar e mostrar alguns valores para os outros (inclusive os pais) e para si mesma. O mesmo acontece com um homem de 50 anos que frequenta a mesma festa. Os motivos são diferentes, obviamente, mas, no essencial, os dois querem, sobretudo, uma coisa só: diversão.
SEX AND THE CITY
No primeiro episódio de "Sex and The City", a personagem principal - Carrie - pergunta: por que existem tantas mulheres maravilhosas solteiras e não existem tantos homens assim? Talvez entre os 15 e 20 anos, a mulher viva seu "auge" no ponto de vista da beleza e da atração em relação aos homens. Lolita é um dos livros que trata do tema: o fascínio que uma adolescente desperta no homem. Antigamente, com os 15 anos, a menina era apresentada à sociedade em um baile de debutantes. A preocupação da moça era arrumar um bom casamento. As mulheres de "Sex and The City" sonham com isso também, com a diferença que são mais velhas, críticas e independentes do ponto de vista financeiro. A escolha pela carreira profissional dificultaria a realização do sonho do casamento? Talvez exista muita expectativa em relação ao papel do homem, tradicionalmente apresentado como "um príncipe encantado"... Sobre este tema, a atriz Marília Pêra disse, uma vez, em uma entrevista: " Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."
Os homens passam pela crise da meia-idade, quando chegam aos 50 anos. Querem, de certa forma, fazer o impossível: recuperar a juventude. Assim, compram carros esportes, frequentam academias, namoram mulheres jovens e, atualmente, contam com o viagra como aliado. Claro que nada disso resolve o inadiável: a velhice... e em seguida, a morte.
As mulheres são lembradas aos 30 anos. Mário Prata, numa crônica na revista Época (Edição 298), cita Balzac - "uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido" e conclui: "são fortes as mulheres de 30. E não têm pressa para nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam."
Os elogios, contudo, não resolvem o essencial: a crise aos 30, para as mulheres, ou aos 50 anos, para os homens. Certamente, os problemas graves de dúvidas pessoais não acontecem apenas nestes momentos. A vida é marcada por dilemas e, como diria Freud, por neuroses. Só não percebe quem é alienado, quem insiste acreditar em fantasias, deixando a realidade de lado. Lembra, claro, o filme Matrix: o indivíduo escolhe entre a pílula azul, a ilusão colorida, ou a pílula vermelha, o real, aquilo que está além das aparências. O real está associado também ao sofrimento. A dor faz parte da vida. As crises existem e pronto. A questão é saber se o indivíduo consegue percebê-las ou não. O mito da caverna de Platão permanece.
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo. No entanto, como ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as joias... Como um fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele. Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar? O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres autodenominados racionais.
O que diferencia o homem dos outros animais? Alguns diriam: o poder ou a política. Outros escolheriam características como amor, dominação, amizade, solidariedade ou religião. No filme "Blade Runner", o que diferencia os humanos dos que não são seria a memória, o fato de se ter um passado. Em outro filme, "Les Invansions Barbares", diante das dúvidas do personagem diante da morte, a filha de sua amiga diz:
"não é a sua vida atual que você não quer deixar; é a sua vida passada; e essa já está morta."
Aqui, mais uma vez o passado aparece como uma característica do ser humano. O que diferencia os homens dos outros homens? A diferença mais óbvia é a questão das classes sociais: uns são ricos e outros são pobres. É uma diferença objetiva e material. Marx acreditava, pelo menos num momento da sua vida, que a criação de uma ideologia tornaria essa diferença social possível. Ricos e pobres acreditam na "ideologia do capitalismo". Então, o que poderia diferenciar uns dos outros? Nietzsche acreditava que a maioria da humanidade não seria capaz de entender a própria existência. Haveria poucos capazes de ir além das obviedades do cotidiano. No filme "Red Dragon", o personagem - e "psicokiller" - Dr. Lecter diz para o investigador:
"você me pegou pois somos parecidos (...) o que nos diferencia dos demais é nossa imaginação."
Alguns filósofos diriam que seria a capacidade de pensar sobre a metafísica e sobre o niilismo. Refletir sobre temas complexos gera ansiedade em muitas pessoas. Não refletir significa alienação. São dois caminhos. São duas opções. Na medida em que você realmente pensa sobre a condição humana, você fez uma escolha e não há caminho de volta. Não seria possível ser superficial novamente e acreditar num mundo perfeito e colorido. Você, agora, vê além do imediato e da aparência. Por um lado, é bom, pois não te enganam mais tão facilmente como antes. Por outro, porém, você percebe o lado "real" dos indivíduos e de suas relações. O mundo aparece, assim, como um lugar sombrio e sem sentido, o que, de fato, ele é. Você percebe ainda que poucos ao seu redor enxergam aquilo que você vê. Você sente solidão. Você sente saudade do tempo em que acreditava em fantasias e não vivia. Diante do dilema vida ou alienação, você fez sua escolha. Cabe, portanto, saber tirar o melhor dela, mesmo sabendo que sentimentos negativos fazem parte da formação do ser humano.
Ninguém nasce, conscientemente, com a intenção de suicidar. Se a depressão está na genética da pessoa, provavelmente o mesmo ocorre com a predisposição ao suicídio. Entretanto, nesse último caso, a questão é mais complexa. Em outras palavras, dificilmente um único fator define a morte do indivíduo. Existem condições que, juntas, podem resultar no suicídio. A primeira delas, claro, é orgânica, ou seja, a pessoa que nasce com a doença da depressão tem maior possibilidade de cometer esse ato. Em segundo lugar, as condições externas são fundamentais. É preciso avaliar sobretudo como os familiares tratam esse indivíduo. É importante perceber como ele é aceito pelas pessoas de uma forma geral, seja na escola, no trabalho, na igreja, entre outros lugares. Trata-se do ambiente social. Em terceirolugar, seria necessário um tratamento específico para a depressão, como medicamentos e psicoterapia. Isso está associado à condição sócio-econômica da pessoa. Cuidar custa caro. Indiretamente, os familiares, por exemplo, podem passar a ideia que aquele indivíduo seria um "peso" na vida deles (isso contribuiria para a opção pelo suicídio). Em quarto lugar, o ambiente natural pode apresentar alguma influência. Os lugares frios e chuvosos, como a Inglaterra, favoreceriam a prática do suicídio. Sobre esse país, Michel Foucault afirmou:
"Na era clássica, explica-se de bom grado a melancolia inglesa pela influência do clima marinho: o frio, a umidade, a instabilidade do tempo, todas as finas gotículas de água que penetram os canais e as fibras do corpo humano e lhe fazem perder a firmeza, predispõem à loucura." (História da Loucura, p. 13)
Em quinto lugar, pode ser citada a associação entre a depressão, a loucura e o suicídio. Esses aspectos são apresentados como negativos e, portanto, necessitariam de cuidados médicos. Essa ideia atrapalha o diagnóstico ou mesmo a procura por uma ajuda de um profissional feita pelo indivíduo, pois qualquer pessoa se considera "normal" e a psiquiatria e a psicologia seriam direcionadas aos loucos. Além desses cinco fatores, devem ser considerados os três pontos citados por um médico que analisou o caso do filósofo Louis Althusser: . "o inconsciente, . a ambivalência dos desejos e . as condições externas aleatórias." Tudo isso junto pode colocar a pessoa numa situação que a morte seria a única saída. É uma decisão dramática. Não é para qualquer e não depende de um único fator.
Terça-feira, 14 de fevereiro de 2012........... DEZ SUGESTÕES
É necessário saber : 1. "daí você não depende de outra pessoa..." Essa frase é uma ilusão. Você vive em sociedade, portanto, não importa a classe social, o sexo ou a idade, você sempre dependerá de alguém. 2. Evite as pessoas que te enchem o saco e só veem o lado negativo das coisas, só te colocam para baixo. Os amigos e os familiares que se enquadram neste perfil devem ser eliminados do seu convívio. Não explique, simplesmente afaste-se destas pessoas. Você não pode mudá-las e indivíduos assim sempre existiram e continuarão perturbando os outros. A condição humana possui vários lados negativos. Esse é um deles. 3. Lembre-se: a vida não é linear e muito menos evolutiva. São altos e baixos. Não existe decadência. 4. Cada indivíduo representa em si um conjunto de contradições: Id, ego e superego. Além disto, ele já nasce com informações na sua genética, com certas tendências... Ainda existe o inconsciente de cada um. Agora, imagine uma sociedade que cada indivíduo desse fosse representado por um bola num jogo de bilhar. Repetindo: cada bola em si já é contém vários conflitos. A sociedade é a "reunião" desses indivíduos. De fato, ocorre um constante choque entre eles, que afeta cada um e todos ao mesmo tempo. É o caos. É imprevisível. É o que eu chamo de chamado "efeito bilhar". Isso é um movimento "interno" que ocorre numa sociedade de indivíduos cuja unidade é complexa e contraditória. 5. A noção de tempo do homem é diferente do que seria o tempo no universo. O tempo do homem foi inventado a partir dos movimentos do planeta terra (sobretudo diante do sol). 6. Cada indivíduo pensa a sua própria condição a partir de três perspectivas: A) "Inside" ou "por dentro", a sua saúde, o seu humor, a influência do inconsciente, entre outros fatores. B) As micro-relações, ou seja, a avaliação das relações com familiares e amigos. C) A sociedade... É necessário avaliar com os outros veem e avaliam esse indivíduo pois isso o afetará emocionalmente. Além destes três níveis, existem as relações com o próprio planeta e com o universo, mas essas relações podem ser consideradas "distantes" no sentido de avaliar o seu bem-estar no cotidiano. 7. Não é novo, mas vale repetir: a base da relação entre o indivíduo e a sociedade é o conflito. Trata-se de uma escolha: ou a PESSOA realiza o seu desejo OU realiza a vontade dos OUTROS. Essa é a contradição: por sua condição, o indivíduo é CARENTE, precisa do outro... por relações de poder, o outro REJEITA o carente... A confusão está instalada sobretudo porque a base de tudo isso é a EMOÇÃO. Em outras palavras, a pessoa inventar uma justificativa RACIONAL para explicar uma REJEIÇÃO, mas internamente aquela DERROTA não foi processada... Com o tempo, torna-se RANCOR ou VINGANÇA. 8. Não existe paz. Não existe segurança. Não existe estabilidade. Não adianta reclamar. Aprenda a conviver com as dúvidas e a certeza da morte ou escolha uma ilusão qualquer para se esconder da vida. Alcoolismo, paixões, drogas, religiões e radicalismo na política fazem grande sucesso entre os alienados. 9. Escolher uma ilusão é montar uma bomba-relógio. O mundo cor-de-rosa precisa apenas de um "gatilho" ("trigger") para detoná-lo. Esse "gatilho" pode ser "externo" ou "interno". Os ditadores são os melhores exemplos na medida em que se mostram como intocáveis (e o pior é que muitos acreditam nesta imagem). Aspecto "Externo": Apesar de ter o controle do Iraque, Saddam Hussein foi retirado do poder por uma força estrangeira (Estados Unidos) e depois foi enforcado. Aspecto "Interno": Mesmo controlando a população do seu país, a Venezuela, mudando a constituição e sendo continuamente reeleito, Hugo Chavéz descobriu que o seu principal recentemente: o câncer. Contra a "natureza do corpo" não existem muitos argumentos... Não adianta "amar a vida, o poder e os bens materiais" e dizer "não quero morrer"... Morrerá. Como qualquer pessoa. 10. Duas maneiras básicas para lidar com os chatos: ironia e reação.
O alienado adora dizer que ama a vida e que é otimista, afinal, o futuro trará só coisas boas. O futuro do alienado - e de qualquer um - é a morte. Escolher a ilusão é escolher não viver. É "passar" pela vida como se fosse um papel de parede ou para utilizar a expressão do Pink Floyd: "another brick on the wall". Não importa se o indivíduo - "o código de barras" - existiu antes de nascer ou se viverá após a morte. Essas questões não lhe dizem respeito. Não saber as respostas faz parte da sua condição de insignificância. A única coisa que ele sabe (mal) é o que acontece entre o seu nascimento e a sua morte. Isso pode interessá-lo ou não - é a tal da escolha: viver ou não.
Sem dramas, sejamos claros: chega de imaturidade e de reclamar. Em que ponto da vida você está? Como aproveitar esse momento AGORA? Use passado a seu favor para não errar novamente e esqueça o futuro, ele não existe, pensar nele só gera ansiedade e você sofre por uma coisa que nem existe e, pior, deixa de ter prazer AGORA. Em que ponto da vida você está? Afinal, qualquer pessoa vive em média uns 80 anos, um pouco mais ou um pouco menos. A questão é, objetivamente, em que "ponto" você está, 20, 28, 40, 50 ou 60 anos? Pense: você tem zero de autonomia nos 10 primeiros anos da vida. Sobram 70. Até os 20 anos, a adolescência, mudança do corpo, hormônios, primeiro beijo, tudo parece novidade e divertido mas a insegurança o obriga a andar e viver em turma. Entre os 20 e os 30, termina a faculdade e começa trabalhar, mas ainda mora com os pais. Ou seja, não tem uma independência verdadeira... No fundo, você ainda não saiu para a vida! Ainda está fingindo para si mesmo e para os outros que finalmente chegou na vida adulta. Não. Você não chegou. Nessa fase, deve pensar o que quer ou, no mínimo, NÃO ACEITAR o que não quer. Por exemplo, pode se recusar a participar daquela hipócrita reunião familiar no Natal. Pense: imagine que você tenha 28 anos, está formado, trabalha, mora com os pais, sai com os mesmo amigos da faculdade MAS ainda NÃO saiu para a VIDA. Você sabe, no fundo, que existe algo errado. Os seus amigos sempre te elogiam e seus pais dizem que você é a pessoa mais inteligente e bonita do universo. Entretanto, você tem dificuldade para dormir. Algumas vezes, falta apetite ou você come demais. Para não enfrentar a si mesmo, faz o que qualquer um faria nessa idade: bebe muito para esquecer da sua vida e para poder suportar os mesmos lugares, as mesmas pessoas, as mesmas reclamações e... você ainda não saiu para a vida. Finge. Mas a insônia diz que existe algo errado. O inconsciente é implacável, você não pode fugir. A partir dessa idade, ou você vive efetivamente a sua vida ou pagará um preço muito alto ao lidar com o seu próprio inconsciente. O tempo não espera. As oportunidades (inclusive as amorosas e as sexuais) não se repetem. Não existe "replay' na vida. É ao vivo. Pegar ou largar. Viver ou reclamar. Ser feliz ou lamentar. Arrepender é focar no passado, é não viver. Ter esperanças é focar no futuro, é não viver. Você pode dar "unfollow" no profelipe que sempre diz "coisa nada a ver", pode fingir que a demissão de 15.000 funcionários no governo da Grécia e a demissão de 12.000 trabalhadores na American Airlines seriam fatos normais e não irão atingi-lo. Pode ter visto o Bom Dia Brasil de hoje, 14-02-2012, e nem percebeu que uma das chamadas das matérias jornalísticas era "Por que o Brasil não cresce mais e não gera emprego?" Você escolhe. A vida é sua. O outro não pode e nem quer fazer algo por você exceto o que cause algum prazer para ele também.
Todo homem enfrenta alguns dilemas após dois meses de namoro: 1. Putz, como vim parar nessa situação? [essa pergunta normalmente ocorre quando ele está num aniversário de 5 anos da sobrinha da namorada NUM SÁBADO A NOITE, no meio de correrias e gritarias de crianças e ainda tendo que ser cordial com tios, primos, etc] 2. Como sair dessa sem magoar os sogros e os cunhados e ainda manter a imagem de "bom rapaz"? Os dilemas desaparecem automaticamente quando ela mostra, desfilando para você, a nova coleção de lingerie que ela comprou para "apimentar" a relação. Mais uma armadilha? Foda-se. Quem se importa? Você ainda pensa: "porra, sou o cara mais sortudo do mundo!!!"
Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012........... O SOGRO
O estilo "Barbie" - "Polyana" não me atrai... Gosto mais das "bad girls"... Claro, no final elas arrebentam com os homens... Mas as ditas "santas" também... Aparentemente, de acordo com Sex and The City, as mulheres pensam assim. Ou seja, se o homem for certinho demais, os sogros o adoram, fala sempre o que elas querem ouvir... Logo desconfiam que ele é gay... Ou, em todo caso, abandonam o coitado e se envolvem com o primeiro "bad boy" que aparecer. Talvez seja por isso que eu tenha tido tantas namoradas e "ficantes"... e meus namoros tenham durado tanto. Todo sogro, repito, todo sogro me odiava. Isso era claro na hora que ele me via. Sabia que eu não seria uma boa influência para a sua filha. Pior: ele sabia que eu iria realizar todos os desejos "freudianos" .d.e.l.e. Parece que ele não achava justo criar uma menina desde pequena, ser o homem mais importante da vida dela, e quando ela resolve descobrir a sexualidade, ela procura outro cara. Em resumo, o sogro não tem saída: quanto mais for contra o namorado mais a filha aumenta o interesse. O que ele normalmente faz é "procurar não saber" o que acontece realmente na vida da jovem filha. É um erro. Não ver não quer dizer que não acontece.
O desemprego é grave na Europa. Muitos brasileiros, antes, sonhavam em trabalhar e viver nos países do continente. A situação inverteu. Quem foi, volta agora. Se não existe trabalho para o europeu, imagine a situação do imigrante. Entre 2000 e 2006, fiz algumas viagens para conhecer países como Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra e Alemanha. Era outra época. Fiquei surpreso ao ver, na televisão, a quantidade de pessoas que estavam morando nas ruas de Lisboa - situação bem diferente quando estive na cidade. A situação na Espanha é pior. O desemprego atinge metade da população, sobretudo os mais jovens. Apareceu, na reportagem, uma família em Madri, que oito pessoas viviam da aposentadoria do mais velho. Entre elas, três jovens que antes eram bem empregados e tinham bons salários, inclusive um chefe de cozinha. Na Grécia, existem tantos problemas na economia, que o país se vê ameaçado de ser expulso da União Européia. A crise é grave. O futuro da moeda, o Euro, é incerto. Algo que surpreende é que o desemprego atinge principalmente os jovens formados e qualificados. Já se fala em uma "Geração Perdida". O velho pretexto de colocar a culpa nos imigrantes não funciona mais. O modelo neoliberal é questionado abertamente nos inúmeros protestos que acontecem nas ruas e praças. O ocorre na Europa faz parte de um modelo econômico que gera o "desemprego estrutural". Elimina vagas de trabalho e profissões. Milhares são excluídos das empresas privadas e públicas. Perdem os empregos e as suas profissões não existem mais.Neste contexto, a questão fundamental é: o que fazer com essas pessoas? Na Espanha, as pessoas vão morar nas ruas pois não conseguem pagar os financiamentos de suas casas. Aqui no Brasil, agora em 2012, os indivíduos que compraram carros em várias parcelas estão com dificuldades para honrar os seus compromissos. Em suma, se no presente alguém possui emprego, ela é incentivada a acreditarno futuro e a investir em projetos como casas e carros novos. Se perder o trabalho ou ocorrer uma mudança na economia, tudo pode ser comprometido. Os resultados? Perdem as casas e os carros. E a ideologia que criava a ilusão de estabilidade no emprego e que mostrava o futuro como uma evolução? Os neoliberais tratam o sucesso como resultado do seu modelo econômico e o fracasso como uma incompetência individual. Mesmo que esse fracasso acabe atingindo milhares de indivíduos ao mesmo tempo. Não é justo, diriam alguns. Claro que não, diriam outros, por isso que é uma ideologia... Quem mandou acreditar na ilusão?
Terça-feira, 31 de janeiro de 2012........... PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA, DEPRESSÃO E SUICÍDIO
Com base no saber científico, é afirmado que existe uma predisposição genética à depressão. Muito antes das pesquisas atuais, Schopenhauer (L'Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 98) já falava em predisposição ao suicídio:
"A herança da susceptibilidade ao suicídio mostra que, na determinação de tirar sua própria vida, a parte subjetiva é certamente o mais forte."
Para os "pesquisadores na Washington University School of Medicine em St. Louis e no King's College em Londres", portanto, de acordo com estudos recentes, estaria na genética a causa da depressão. Ou seja:
"geneticamente, há uma combinação no DNA no cromossoma 3 associado com a depressão. (...) A análise da família revelou um histórico de depressão em muitos dos que enfrentaram essa doença, mas em poucos dos que não a enfrentaram. Há uma região no DNA com noventa genes onde parece que essa predisposição se origina. " *
O que realmente importa é admitir tanto uma predisposição genética à depressão quanto uma predisposição ao suicídio. Em outras palavras, alguns indivíduos nascem com tendências à depressão ou ao suicídio. Claro, um caso pode levar ao outro, ou seja, a depressão pode ser a principal causa do suicídio. Neste contexto, como culpar alguém por ter depressão? Como dizer, por exemplo, que "uma pessoa irá para o inferno" porque ela "escolheu" o suicídio? Afirmações do senso comum e a orientação dada por algumas religiões só servem para confundir as pessoas e reforçar preconceitos, o que complica ainda mais a vida de quem nasceu com essas predisposições. Na prática, muitos que dizem que querem ajudar não fazem outra coisa a não ser agravar um quadro de um paciente que necessitaria de colaboração e apoio para enfrentar os problemas causados por seu organismo (problemas "internos"). Assim, essas pessoas fazem o contrário do que teoricamente desejariam, ou seja, elas dificultam a vida do paciente na medida em que tornam-se, para ele, os principais problemas "externos". As predisposições orgânicas causam um "inferno interno" e os indivíduos causam um "inferno externo". Como sair de tal situação? A morte não é uma escolha do paciente. De certa forma, ele é "empurrado" em sua direção tanto pelo seu organismo como por aquelas pessoas que "só querem ajudar". Falar que a morte foi uma escolha do indivíduo representa colocar a culpa na vítima. Quem faz isso deseja retirar de si qualquer responsabilidade de um processo que teve um fim trágico.
* Gláucio SOARES. jb on line. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/06/07/a-doenca-invisivel/
Sábado, 28 de janeiro de 2012........... BEIJO & SEXO
Os homens eram orientados pelos pais, no caso de relações sexuais com prostitutas, que poderiam fazer tudo exceto beijar na boca. Era assim com a minha geração. Provavelmente, depois que a maioria deixou de se preocupar em casar virgem no casamento, isso tenha mudado. Atualmente, as garotas acham que beijar vários homens numa noite não significaria algo especial, na medida em que não houve uma maior intimidade. Ouvi dizer que, nos carnavais fora de época, uma menina chega a beijar mais de 20 rapazes numa noite. Quais seriam os riscos deste comportamento? Beijar na boca é algo íntimo e a pessoa "acessa" o histórico (sexual, inclusive) do outro no próprio ato. As campanhas do governo enfatizam que o uso da camisinha seria o passaporte para a prática da sexualidade. Implicitamente, o risco de ser contaminado por uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) é associado somente ao coito (a penetração numa relação sexual). O problema deste tipo de análise é a omissão do fato que a DST pode ser transmitida também pelo beijo (portanto, tanto em namoros heterossexuais ou homossexuais masculinos e femininos), como é o caso da sífilis. Não é só isso. Pode ser "lenda urbana", mas ouvi uma história, uma vez, que prenderam um necrófilo depois que ele ficou com uma moça numa boite, beijando-a mas sem conseguir levá-la para sua casa. Semanas depois, ela apareceu com feridas na boca e o médico disse que aquilo acontecia somente com mortos. Pelo histórico dela, chegaram no necrófilo e descobriram alguns corpos na sua residência. Claro que os riscos aumentam quando existe relação sexual sem o uso de preservativos. As campanhas contra a aids ajudaram a conscientizar a população neste sentido. Entretanto, beijar na boca continua sendo divulgado como algo inocente e sem perigo. O amor está associado à emoção e não á razão. Contudo, na medida em que as pessoas já fazem acordos financeiros antes do casamento, talvez já seja hora de verificar a história de alguém que, num futuro próximo, poderá tornar-se mais íntima do ponto de vista sexual.
Escrevi um texto sobre a automutilação com o título de "Desejo de Morte". Ela é um processo individual. Atualmente, ocorre também um fenômeno coletivo que está associado ao movimento da chamada "Primavera Árabe", que, aliás, não representa somente uma luta política por democracia, na medida em que existe ainda um grave problema econômico causado pelo neoliberalismo:
"As condições econômicas em grande parte do Norte de África e do Oriente Médio são tão difíceis quanto antes, de fato, em muitos lugares, como o Egito e a Líbia, elas têm piorado."*
Assim como no resto do mundo, o problema econômico no mundo árabe não atinge apenas os trabalhadores sem qualificação. A falta de perspectiva leva a radicalização:
"A autoimolação, símbolo da frustração e da impotência, tornou-se cada vez mais comum em toda a região." *
A autoimolação é um problema social que atinge mesmo aqueles que seriam qualificados mas que não encontram trabalho; Esse foi o caso que aconteceu no Marrocos, quando cinco indivíduos adotaram esta estratégia para chamar a atenção das autoridades. Eles faziam
"(...) parte de um grupo nacional chamado Diplomados Desempregados. Eles juntaram forças ao protesto de cerca de 160 membros do movimento, que tinham como objetivo ocupar um edifício administrativo do Ministério do Ensino Superior.(...) A taxa de desemprego oficial de Marrocos é de 9,1 por cento a nível nacional, mas é 16 por cento entre os trabalhadores qualificados." *
O que causaria a autoimolação? Jihad al-Khazen, do Al-Hayat, apresenta uma análise interessante:
"As condições de vida de muitos tornaram-se miseráveis. (...) [Trata-se do] resultado de desespero e um sentimento entre muitos no mundo árabe que suas próprias vidas perderam o seu valor." *
No entanto, o problema é mais complexo e não se restringe ao povo árabe. É um problema mundial criado pela adoção de um modelo econômico que concentra a riqueza cada vez mais nas mãos de uma minoria. Isso, por sinal, não é citado na matéria do New York Times - as citações foram retiradas desse jornal.
O problema é econômico. A causa é o neoliberalismo. A metodologia de exclusão é o desemprego estrutural - o indivíduo perde o emprego e a profissão em decorrência do avanço tecnológico. A solução? Aqui está "a" questão. Os partidos políticos não são confiáveis. A autoimolação certamente não é a resposta. O que fazer? Protestar, ocupar as ruas e as praças como ocorrem em lugares tão diferentes como a Líbia, Espanha e Estados Unidos? Isso seria o suficiente? Depois do protesto, seria necessário a apresentação de uma alternativa ao neoliberalismo. Aqui encontra-se o verdadeiro dilema atual.
* BAKRI, Nada. Self-Immolation Is on the Rise in the Arab World. New York Times, 20/01/2012. http://www.nytimes.com/2012/01/21/world/africa/self-immolation-on-the-rise-in-the-arab-world.html?_r=1&smid=tw-nytimes&seid=auto
A traição é uma das características do ser humano. Ela é pior do que a covardia, pois o indivíduo deseja obter alguma vantagem com o seu ato. Numa das músicas do U2 é dito:
"Um homem é traído com um beijo Em nome do amor O que mais em nome do amor?"
A referência é óbvia. Assim como é claro tanto o gesto de suposta amizade - o beijo - como o significado do ato - o amor, como se a traição representasse o bem para o traído. Na prática, contudo, não é assim. Os "trinta dinheiros" são a razão do egoísmo que quer parecer altruísmo. Entretanto, esta não é a coisa mais negativa da traição. O ruim é tentar colocar a culpa na vítima, como se ela merecesse ser punida. Ainda pior do que isso é construir "uma verdade" sobre o fato que interessa somente ao traidor. Com a sua invenção, ele tenta convencer os outros e a si mesmo. Funciona? Nem sempre. Como no exemplo citado na música do U2, a culpa corrói o que ainda existe de consciência no traidor. Ele é o derrotado na história. O traído, mesmo morto, torna-se justamente o vencedor:
"Livre ao final, eles pegaram a sua vida [Mas] Eles não poderiam pegar o seu orgulho."
O nome da música é "Pride (In The Name of Love)". Perfeita.
Não deveria, mas ainda me irrito com a incapacidade de algumas pessoas de ver a realidade. Não pode ser só burrice. Será? Trata-se da alienação ou, como diria aquela professora do filme "Invasões Bárbaras":
" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité."
Escrevi isso uma vez num artigo chamado "Alienação" e repetirei aqui: Sim, a alienação irrita. As pessoas são incapazes (como diz a personagem) ou se recusam a ver a realidade. Maier afirma que "a maioria é incapaz de ver a sua dignidade reconhecida." A maioria sabe (ou quer saber) o que é dignidade? Nelson Rodrigues, discutindo sobre o conteúdo de suas peças, afirmou:
"(...) que o espectador burro não saque a diferença, isso é uma fatalidade do espectador, ouviu? Eu não sou culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil."
Fatalidade? Incapacidade? Recusa? A alienação é incentivada em nossa sociedade. Saber menos garante a concentração de renda para uma minoria. O objetivo final, para utilizar termos marxistas, é econômico. Neste sentido, a alienação é produzida pela ideologia, que chega aos indivíduos através dos meios de comunicação de massa, das escolas, das igrejas, entre outras instituições.
Terça-feira, 17 de janeiro de 2012........... FINGIR E FUGIR
O indivíduo evita o objeto do seu medo. Evita as falhas da condição humana. Ele acredita que aquilo que ele não vê, não existe. Os velhos o incomodam, basta colocá-los no asilo - "é um bom lugar, eles vão gostar". Os loucos causam escândalos? Existem os hospícios e as clínicas psiquiátricas para isso - "lá eles serão bem tratados". E aqueles que não respeitam as leis da sociedade? Criminosos? Prisão - "lá eles serão 'recuperados' para o convívio social". É importante, primeiro, limpar a própria casa. Num segundo momento, se possível, seria necessário limpar a rua também - a maneira como as autoridades de São Paulo lidaram como o caso da "cracolândia" seria um exemplo neste sentido. Apesar de todos esses esforços, o indivíduo deve enfrentar um medo maior: ele mesmo. O que fazer com tantas experiências negativas vividas desde a infância... os fracassos, as rejeições e as humilhações? Seria simples: basta evitar pensar nestes momentos. Entretanto, no sonho, a sua razão perde espaço para o inconsciente, e tudo desaba... Tudo que ele queria esquecer insistir em aparecer nos sonhos. O indivíduo, normalmente depois dos 30 anos, reclama que tem dificuldade para dormir. No fundo, ele tem é medo. Quer evitar o seu inconsciente. Quer evitar a si mesmo. Ele que inventou os asilos, os hospícios, as prisões... Ele que limpou as ruas... Ele não consegue vencer algo que ele nem admite que, de fato, existe: o inconsciente. O que fazer? Como fugir de si? Fanatismo religioso? Alcoolismo? Drogas? Mas se escolher essas alternativas ele poderá ser preso em uma das várias "casas de reclusão" que ele mesmo inventou. Fingir. Fingir até quando for possível. Fingir para a família, fingir para os amigos, fingir para o (a) amado (a), fingir para o padre (pastor), fingir para a polícia, fingir para o professor, enfim, fingir principalmente para si mesmo...
Segunda-feira, 16 de janeiro de 2012........... NORMALIDADE
As pessoas se esforçam bastante para serem aceitas na sociedade. Depois, formam pequenos grupos para excluir os outros. Fingir é o caminho da suposta normalidade. Fingir que elas não morrerão. Fingir que a vida faz sentido. Quando o absurdo acontece, elas apelam para algo superior, como se o que acontecesse neste planeta insignificante fosse regido por uma força maior. Neste momento, deixam automaticamente de serem responsáveis por seus atos - bons e maus - e colocam a culpa no destino. Quanto maior o número de fracassos, mais torna-se necessário o apego à religião. Inversamente, existem os casos de pessoas que atingem os seus objetivos e associam o mérito ao sobrenatural. Há, nos dois casos, uma omissão no que diz respeito aos atos e às respectivas consequências. Com o passar dos anos, viria uma maior sabedoria decorrente das experiências práticas da vida. Entretanto, isso não acontece. Existe uma infantilização. O medo da morte transforma num religioso conservador aquele indivíduo que antes se orgulhava de ser o "bad boy" da cidade. A decadência do corpo compromete principalmente a visão, a audição e a memória. Essa última é a palavra-chave, pois há uma recusa em pensar no passado quando se está numa idade que não existe outra coisa a fazer a não ser avaliar as experiências de uma longa vida. Não existe outro caminho, afinal, pensar no futuro é enfrentar o inevitável: a morte. Acontece um conflito: o indivíduo cometeu erros durante toda a vida - manipulou, roubou, mentiu, foi antiético e infiel - e está próximo da morte; uma coisa está associada à outra e ele não quer nem pensar no passado e nem admitir o futuro de todo ser humano! Irônico. Todo o esforço em nome da normalidade desmorona como um castelo de cartas diante da única certeza da vida.
Freud, em uma entrevista em 1930, admitiu que tanto quanto ao sexo ele dava importância "ao 'além' do prazer - a morte, a negação da vida. Esse desejo explica porque alguns homens gostam da dor - ela representa um passo em direção à morte! O desejo de morte explica por que todos os homens procuram o descanso eterno..." (A Arte da Entrevista, p. 96)
Sexta-feira, 13 de janeiro de 2012........... O NAVIO DOS LOUCOS
Existem, atualmente, vários recursos para tratar a depressão, com avanços nas formas de terapias e mesmo a adoção dos modernos medicamentos. A minha depressão é genética. O médico que me receitava antidepressivos na adolescência e na infância suicidou em 2007. Quando era o seu paciente, eu desconfiava que ele não sabia muito bem o que fazia. Além disto, a ciência que ele representava, a psiquiatria, ainda estava bastante atrasada tanto quanto ao internamento como no que diz respeito aos remédios. Na época que fazia graduação e ele não era mais o meu médico, tive a oportunidade de questioná-lo em um debate - ele fazia parte de uma mesa redonda. Na oportunidade, pelas respostas que ele dava, desconfiava ainda mais de sua competência. Antes do seu suicídio, ele apareceu em rede nacional sendo preso pela polícia federal, pois exigiria suborno de pacientes para liberar uma autorização em nome do governo. Ver a toda a cena do suborno e da sua prisão no jornal, em minha casa, confirmaria as minhas velhas suspeitas sobre a sua postura ética. De fato, quando fui seu paciente, apesar de ser um adolescente inseguro, eu tinha a impressão que ele me tratava como "rato de laboratório". Certamente o meu caso não foi o único. Posteriormente, vi outros psiquiatras, também pela televisão, que foram presos por outros motivos. Tudo isso faz lembrar a análise de Michel Foucault sobre uma pintura de Bosch (1450-1516), o "Navio do Loucos":
"(...) não esqueçamos o famoso médico de Bosch, ainda mais louco que aquele a quem pretende curar - com toda sua falsa ciência não tendo feito outra coisa senão depositar sobre ele os piores despojos de uma loucura que todos podem ver, menos ele." (História da Loucura, p. 26)
De fato, o conceito de loucura mudou conforme a época e o lugar. O saber médico associado à ciência e ao discurso racional foi somente mais uma tentativa de construir uma verdade quanto aquilo que não poderia ser enquadrado no chamado comportamento "normal".
TUMBLR
Sobre a Inglaterra, Michel Foucault apresenta uma análise interessante:
"Na era clássica, explica-se de bom grado a melancolia inglesa pela influência do clima marinho: o frio, a umidade, a instabilidade do tempo, todas as finas gotículas de água que penetram os canais e as fibras do corpo humano e lhe fazem perder a firmeza, predispõem à loucura." (História da Loucura, p. 13)
Adoro o Tumblr e percebi que alguns perfis que tenho contato são da Inglaterra. Isso não ocorre por acaso, afinal, me interesso por temas considerados impopulares por aqui, como depressão, suicídio e morte. No Tumblr, vi que, fora do Brasil, eles não são tão impopulares assim.
O avô Mick Jagger, 68 anos, prefere garotas mais jovens do que suas filhas. Pete Twonshend, 66 anos, do The Who se livrou da acusação de pedofilia (pela internet). O baixista da mesma banda, John Entwistle, aos 57 anos, morreu (ataque cardíaco) numa noite, com GPs, regada a whisky, cocaína e Viagra. Na sociedade atual - isso não é novidade -, os homens mais velhos preferem as garotas mais jovens. As mulheres, chamadas de "cougars", não ficam atrás. Mais velhas, divorciadas e ricas, preferem os rapazes de 20 anos. Na Grécia Antiga, havia também um interesse dos velhos pelos mais jovens. Era muito comum, nesta época, a relação entre um homem e um rapaz. É interessante perceber que, na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Michel Foucault (Cuidado de Si 197) dizia "que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)." Portanto, neste contexto, o essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor. De qualquer maneira, a fórmula que une os mais velhos aos mais jovens nas relações amorosas parece não ter mudado muito ao longo dos tempos.
O APEGO A SI PRÓPRIO
Você se ama, acha que não tem defeitos e acredita que seria superior aos outros? Leia essa citação:
"O apego a si próprio é o primeiro sinal da loucura, mas é porque o homem se apega a si próprio que ele aceita o erro como verdade, a mentira como sendorealidade, a violência e a feiúra como sendo a beleza e a justiça." (Michel Foucault, História da Loucura, p. 24)
A mentalidade religiosa deste século, sobretudo no mundo ocidental, ainda é definida a partir de dois livros: a Bíblia - século XV a.C. - e o Alcorão - século VII d.C. Se não houve uma mudança de mentalidade com a revolução tecnológica do PC e da Internet, ocorreu o agravamento das contradições sociais, típicas do modo de produção capitalista. O desemprego da época da hegemonia do trabalho manual tornou-se, agora, o desemprego estrutural - o indivíduo perde o emprego e a profissão. Religião e economia. O que fazer com os excluídos, que são apresentados como uma "doença" da sociedade? Karl Marx já ironizava esse discurso que é utilizado até hoje:
"Aconteceu que a elite foi acumulando riquezas e a população vadia ficou sem ter outra coisa para vender além da própria pele. Temos aí o pecado original da economia. Por causa dele, a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos, embora tenham esses poucos parado de trabalhar há muito tempo." (O Capital, p. 829)
Essa análise não é sobre o movimento de Wall Street, da grave crise de desemprego da Europa ou mesmo da chamada "Primavera Árabe". Trata-se de um livro do século XIX, em que já era claro que "a grande massa é pobre e, apesar de se esfalfar, só tem para vender a própria força de trabalho, enquanto cresce continuamente a riqueza de poucos!!"
Terça-feira, 10 de janeiro de 2012........... PESADELOS
Acordei. Tive outro pesadelo "longa metragem". A associação com as experiências do passado é tão óbvia que nem precisaria de Freud para explicar. Se soubesse disso quando mais jovem, talvez tomasse mais cuidado com as minhas relações. Ou não. O fato é que sempre tive pesadelos. Lembro dos mais marcantes até hoje. Os temas mudam pouco. O susto ao acordar permanece o mesmo. Portanto, apesar deles serem "alimentados" pelos traumas do passado, não acredito que ter tido mais cuidado me livraria dos pesadelos atuais. De qualquer maneira, assim como a depressão, percebi que eles fazem parte da minha condição de existência. É algo que tenho que conviver e pronto. Um dos conselhos daquela revista inglesa (foi citada em vários artigos) - para melhorar o ânimo de quem tem depressão - seria:
"If you have trouble sleeping, turn on the radio or watch TV." (Elle, August 1993, p. 142)
Já comentei que depois que li o artigo, sempre dormi ouvindo alguma coisa, música ou filme. Com o fim do LP, do CD, agora eu ouço música no computador ou no celular. Para dormir, só existe uma banda: Led Zeppelin. Se eu colocar a música de qualquer outro grupo, terei pesadelos. Aliás, foi exatamente isso que aconteceu hoje. Por quê Led Zeppelin? Talvez porque a música seja mais importante do que as letras. Talvez porque considere o som da banda um pouco "neutro", ou seja, o Led Zeppelin não foi o tipo de banda que fazia canções melosas como, por exemplo, aquelas do Brian Adams ou da Celine Dion. Não sei ao certo, mas o meu sono sem pesadelo, aparentemente, depende do grupo de Jimmy Page.
Segunda-feira, 9 de janeiro de 2012........... FANTASIA
Algumas pessoas acham que me exponho demais nos textos opinativos. Primeiro vai uma sugestão: leia as entrevistas de Charles Bukowski sobre os questionamentos se os seus livros seriam autobiográficos. Segundo, quem te garante que o que você lê foi um fato ou uma fantasia (ou os dois hahaha). Terceiro, pessoas desse tipo juram que vestindo terninhos e seguindo os conselhos da revista Você S.A., elas conseguem enganar os outros e esconder os seus defeitos e fragilidades... por favor!! Ninguém engana ninguém!!! Não é porque um bando de puxa-sacos supostamente avalizam a sua fantasia, que isso signifique que o seu mundo - poder, dinheiro e sexo - seja verdadeiro e real.
Domingo, 8 de janeiro de 2012........... CONDIÇÕES INTERNAS E EXTERNAS
O que leva uma pessoa ao suicídio? Depressão. Mas só isso? OK, a depressão é a principal causa de suicídios no mundo. Não há como contestar. Isso significa que o fator "interno" - a dor - seria fundamental no processo. Existe ainda a parte "externa", ou seja, a repressão cotidiana que a pessoa vive, o que só piora a sua condição. Em poucas palavras, ela teria que lutar contra um "dragão interno" - a depressão - e contra uma opressão diária de indivíduos na família, na escola, no trabalho e em outras instituições. Existem dois "infernos": um interno e o externo. Muitos se perguntam se os suicidas não têm medo de ir para o inferno... Essas pessoas não percebem que eles já vivem no "inferno"... Se questionados, eles poderiam responder: "como o inferno pode ser pior do que isso?" Na verdade, a questão não é religiosa e nem sobre a existência ou não do inferno. O ponto essencial é que o suicida, no seu ato, não escolhe a morte, como a maioria imagina. Ele recusa a vida, ou pelo menos a "sua" vida. Neste sentido, apesar do "dragão interno" - a depressão -, esse indivíduo poderia ter uma vida mais longa e saudável se tivesse o apoio e a compreensão das pessoas daquelas instituições (família, escola, trabalho, entre outras).
A mulher é educada para dificultar as coisas. Por mais que queira uma relação, jamais diz "sim" de imediato. É sempre uma dificuldade. O homem, quando é mais novo, com os seus 20 anos, suporta todos os charmes e exigências - flores, sogros, DRs, atrasos, supostas dores de cabeça, cara fechada, ciúmes e assim por diante - pois mantém o foco no seu objetivo final: a relação sexual. É uma questão de hormônios. Pronto. Por outro lado, satisfeito o seu instinto sexual, ele não apenas dorme como normalmente perde o interesse naquela garota (especificamente). Ele quer mais sexo, mas precisa de novidade. Em outras palavras, necessita de garotas diferentes. Neste sentido, ele nunca ficará satisfeito. Pode ser casado com a mulher mais linda e desejada do mundo, mas sempre desejará aquela que ele nunca possuiu. Depois de "tê-la", claro, "perde a graça". Isso explica porque um homem que namora uma bela mulher, é capaz de ser infiel com outra que seria considerada feia e fora dos padrões de beleza. Existe um filme que trata bem do assunto, chama-se "Trop Belle Pour Toi" ("Muita Bela Para Ele"), quando o personagem de Gérard Depardieu, que é casado com uma mulher bonita, inteligente e rica, mantém um caso com outra que representaria o oposto da beleza convencional. Essa é a natureza masculina. Mas, diriam alguns, existem homens casados durante décadas que nunca foram infiéis. Sim, se for considerado infidelidade o ato sexual "real" com outra mulher, é verdade. Se tirar o "real", pode esquecer... O homem sempre olha uma mulher bonita, para não dizer que a deseja... Ele nega, mas se ela ficar nua na sua frente, o seu corpo dirá outra coisa. Machismo? Provavelmente. Entretanto, não existe muito o que fazer, afinal, é a natureza.
Segunda-feira, 2 de janeiro de 2012........... INCOMODADOS
Alguém te incomoda? Como? Por quê? O que fazer? Uma criança incomoda uma mãe com aquelas perguntas fundamentais e a mãe, sem as respostas, usa a sua autoridade: "estou ocupada" ou simplesmente um "cala a boa". Uma garota vê um rapaz num bar e logo diz "não fui com a cara dele". Por quê? Ele não o conhece, não conversou com ele. Ele tem barba e a sua aparência, inconscientemente, é associada a algum trauma sofrido pela garota (que ela não gosta de lembrar). Daí, claro, aparece todo tipo de preconceito. Os homossexuais incomodam? Por quê? O que fazer? Assassiná-los, colocá-los em campos de concentração? Os pobres incomodam? É chato ver gente passando fome morando na rua? O que fazer? Na Europa, nos séculos XV e XVI, foi criada "uma legislação sanguinária contra a vadiagem." (Karl Marx, O Capital, p. 851) Em 1572, na Inglaterra, as punições eram:
"Mendigos sem licença e com mais de 14 anos serão flagelados severamente e terão suas orelhas marcadas a ferro, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; em caso de reincidência, se têm 18 anos, serão enforcados, se ninguém quiser tomá-los a serviço por 2 anos; na terceira vez serão enforcados, sem mercê, como traidores." (Karl Marx, O Capital, p. 853)
Normalmente, a prisão e o isolamento dos "diferentes" são as formas mais aceitas pelos considerados "civilizados". Alguns ainda criam instituições por "caridade", para cuidar dos velhos - e claro, conseguirem votos em uma eleição... Historicamente, houve um momento que vários "excluídos" eram presos em um mesmo lugar:
"(...) o louco da era clássica é internado com os doentes venéreos, os devassos, os libertinos, os homossexuais." (Michel Foucault, História da Loucura, p. 121)
Posteriormente, os loucos ficariam internados num hospícios, os criminosos numa prisão, os velhos num asilo e assim por diante. No Brasil, durante a ditadura militar, havia uma polêmica quanto aos presídios no que dizia respeito aos "presos políticos" e aos "presos comuns". O debate seria se o contato entre eles poderia causar consequências negativas para a sociedade. A exclusão, assim, não é percebida como um processo de "recuperação do preso". Ela seria, de fato, uma forma de proteção daqueles que estão livres. O interessante em todo o processo é que os incomodados nunca questionam se o problema estariam com eles. Existe uma clara recusa de autocrítica. Certamente é mais fácil colocar a culpa no outro.